Ainda assim
não é raro que os pais se assustem quando confrontados com a questão. Muitos
podem relutar em admitir o que estão presenciando, talvez por não se lembrarem
de situações semelhantes já vividas no passado. Mas um teste rápido é capaz de
comprovar que o interesse pelos genitais não é fato isolado. Experimente
perguntar às pessoas ao seu lado se elas se lembram de algum episódio durante a
infância de brincadeiras sexuais consigo mesmas ou com pessoas próximas. No
teste da repórter na redação, dois episódios logo surgiram. No primeiro, um
estudante de 7 anos que encontrou dois coleguinhas sem calças na hora do
recreio e chamou a professora imediatamente. Não por que intuiu alguma
"coisa errada", mas por que queria brincar naquele lugar. No segundo,
uma filha avisou ao pai que assistia à televisão: ‘vou ali no quartinho e não
quero que você entre lá’. Obviamente ele foi atrás e encontrou a filha pelada
em cima do irmão mais velho, também uma criança sem roupas.
Psicóloga,
professora da PUC Minas e coordenadora da educação infantil da escola Balão
Vermelho, em Belo Horizonte, Adriana Monteiro reforça a importância de o tema
ser compreendido como uma curiosidade natural da criança. “É uma forma de
exploração corporal como colocar a mão na boca, a semente do feijão no ouvido
ou morder o coleguinha para poder conhecer o corpo do outro. Quando descobre os
órgãos genitais a criança vai sentir prazer na descoberta e insistir no
comportamento”, salienta. Uma informação importante é que as escolas têm
protocolo de orientação aos professores para lidar com situações de
“flagrante”.
Abordagem
Pesquisadora
em educação em sexualidade, Anna Cláudia observa que a menina de 5 anos já
compreende que o “mexer na perereca” é da intimidade quando usa a palavra
segredo para contar à mãe sua descoberta. Nesses casos, fica mais fácil ajudar
os pequenos a compreenderem que o toque nos órgãos sexuais não é para ser
praticado na frente das pessoas. Mas e quando é uma criança de 2 anos? Apesar
de existirem marcos do desenvolvimento infantil, os pais precisam sempre
lembrar que cada criança é única e tem o seu tempo para descobrir e entender o
mundo ao seu redor. Considerando esse aspecto, Adriana Monteiro afirma que
nessa idade é raro a masturbação ser um hábito frequente que necessite uma
intervenção. “O que a gente faz é interromper a ação e propor outra atividade
sem dizer absolutamente nada”, diz.
Para Anna
Cláudia, os adultos educam sexualmente não só com o que eles falam, mas também
com o que não é dito. “A criança é uma esponja e ela percebe mais coisas do que
o adulto consegue notar que ela percebe”, lembra. Ela recomenda - nos casos de
a masturbação acontecer em público - que os pais façam a interdição em
particular. “Se é da intimidade, a abordagem tem que ser de forma íntima,
senão, o adulto estará transmitindo uma mensagem paradoxal”, pontua. Uma dica
importante é usar o adulto como um espelho para ajudar a criança a compreender
a orientação. “Você vê o seu pai fazendo isso na frente das pessoas?”, pode ser
uma comparação a ser utilizada.
Prevenção
O que esses
meninos e meninas precisam entender é que o pênis e a vulva são partes do corpo
para serem lidados quando eles estiverem sozinhos. Esse recado ajuda as
crianças a irem percebendo que o corpo é exclusividade delas. Dessa forma, os
pais estão trabalhando, inclusive, a prevenção. Anna Cláudia reforça: “As
crianças não se excitam. A experiência é exclusivamente sensorial. O problema
está no olhar do adulto para a sexualidade infantil. O adulto erotiza e enxerga
coisa que não tem”.
Insistência
É consenso
entre especialistas que bater, xingar, reprimir não é o caminho para tratar a
masturbação na infância, mesmo se o comportamento for insistente. Adriana
Monteiro diz que a criança não entende que, moralmente, o comportamento em
público não é bem aceito. “Em ambiente privado, os pais precisam dizer que é
algo para se fazer quando estiver sozinho, no banheiro ou no quarto. O que o
adulto precisa fazer é dar a noção da intimidade. Se a criança insiste, a
conversa precisa se repetir”, sugere.
O artifício
que a educadora utiliza na escola é chamar a criança em ambiente privado,
reconhecer a vontade que ela tem em repetir o ato e fazer um combinado: “todas
as vezes que você fizer esse tipo de brincadeira vamos te lembrar que você pode
brincar de outras coisas falando o seu nome e dizendo a seguinte frase ‘lembra
de uma brincadeira’”. Adriana diz que crianças de 3 e 4 anos conseguem manter o
acordo.
Excesso
“O que difere
a normalidade da patologia não é a qualidade é a intensidade. Todo mundo sente
as mesmas coisas, mas a patologia está no excesso”, afirma a psicóloga Anna
Cláudia. Para ela, o que os pais precisam observar é em que situação a
masturbação acontece. Novamente ela insiste: “A primeira tarefa é olhar sem
julgamento. Acontece antes ou depois do quê? Como está o estado emocional da
criança?”, sugere.
Para Adriana
Monteiro, o exagerado “é só querer fazer isso e nada mais. A criança pode até
desviar a atenção para outra coisa, mas retorna à masturbação”. Nesses casos, a
família deve procurar um atendimento especializado.
Adolescência
Para os
adultos que já são pais e mães de adolescentes, o desafio da educação sexual é
a família se abrir para conversar sobre as emoções dos filhos e filhas.
“Discutir sexualidade não significa falar de gravidez e camisinha. Os pais
focam no discurso preventivo e não acolhem as experiências que estão no nível
das relações. Meninos e meninas querem falar de afeto, ciúme, machismo, padrão
estético de beleza. Começar uma conversa com camisinha não vai dar liga. Não é
disso que eles querem falar, não é isso que os inquieta”, afirma a psicóloga
Anna Cláudia.
Uma sugestão
que a especialista recomenda aos pais de adolescentes é o Manual de Educação em
Sexualidade da Unesco, 'Cá entre nós: Guia de Educação Integral em Sexualidade
Entre Jovens'. Para acessá-lo, clique aqui
Fonte: Rede Psicoterapias
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