’Se
não tratado o bruxismo traz inúmeras consequências danosas não só em termos de
boca mas também em contexto craniofacial. Não se pode falar exatamente em cura
definitiva, pois ele é pode ser recorrente, mas é possível administrar o
problema, minimizando-o a ponto de não causar os efeitos colaterais nocivos ao
corpo. Cerca de 30 milhões de brasileiros sofrem com o problema, que é
considerado, inclusive, um distúrbio do sono muito comum’.
Mais
de 30 milhões de pessoas no Brasil sofrem com bruxismo, problema relacionado
aos distúrbios do sono e que causa malefícios a saúde. Dois tipos de bruxismo
podem afetar o organismo, o do sono e o diurno. O primeiro ocorre durante a
noite e pode ser silencioso ou com ruídos, quando existe apertamento vertical
associado ao deslizar dos dentes para os lados, som que caracteriza o rangido.
Já o diurno é normalmente silencioso e também é caracterizado pelo apertamento
em nível vertical, ou seja, a musculatura mastigatória comprime os dentes
inferiores contra os superiores.
De
acordo com o professor-convidado da UFPR (pós-graduação) Gerson Köhler,
ortodontista e ortopedista facial com atuação também em distúrbios do sono, o
bruxismo é um mecanismo fisiológico que acontece naturalmente e que é comum a
todas as pessoas. “O bruxismo se torna uma disfunção quando é acompanhando de
ranger ou apertamento de dentes e excesso de força gerado pela musculatura
mastigatória. A pressão excessiva exercida pelos músculos mastigatórios é
destrutiva para a estrutura do rosto, que não possui capacidade para aguentar
tanta potência”, explica o professor Köhler.
Segundo
um estudo realizado por pesquisadores da PUC – Rio Grande do Sul e publicado no
The International Journal of Prosthodontics, as dificuldades respiratórias
durante o sono aumentam o número de episódios de bruxismo, pois o problema
ocorre justamente durante os micro-despertares presentes na arquitetura do
sono. “Os distúrbios do sono provocam micro-despertares, prejudicando a
qualidade do descanso e estimulando o bruxismo. Quem sofre com a chamada apneia
do sono, definida como interrupções da respiração durante a noite, tem sete
vezes mais chances de apresentar o problema”, destaca.
O
estudo ainda aponta que a diferença – durante o período de sono – entre as
pessoas saudáveis e aquelas que são portadoras de bruxismo patológico está no
número e na intensidade dos apertamentos que ocorrem durante a noite. “O
masseter, um dos músculos que atuam na mastigação, é o mais poderoso do corpo
humano e causa os apertamentos nos dentes. Embora a expressão mais utilizada
seja ‘apertamento dos dentes’, na verdade a responsabilidade do que
efetivamente ocorre na boca e na face é uma excessiva ação da musculatura
mastigatória, sendo que os dentes são quase que ‘reféns’ destes episódios”,
esclarece.
Köhler
observa que o bruxismo é considerado, além de um distúrbio do sono, um problema
com envolvimentos de ordem neurofisiológica e ainda como resultante do estresse
cotidiano, sendo uma espécie de psicossomatização. “Normalmente a
psicossomatização é resultante da ação da tríade ansiedade, tensão e
nervosismo. Estas pessoas costumam fazer o chamado estresse antecipatório, isto
é, costumam preocupar-se antecipadamente com eventos futuros que, muitas vezes,
nem chegam a ocorrer. A rinite também está relacionada ao bruxismo e aumenta em
três vezes o risco do surgimento do mal”, evidencia um estudo de um médico
alergista americano.
Devido
às várias causas possíveis é fundamental encontrar as verdadeiras razões que
levam ao bruxismo. Desgastes nos dentes, retrações gengivais, ruídos nas
articulações temporomandibulares, dores na face, na cabeça, pescoço e ombros
são sinais que podem indicar a presença do problema. “Se não tratado o bruxismo
traz inúmeras consequências danosas não só em termos de boca mas também em
contexto craniofacial. Não se pode falar exatamente em cura definitiva, pois
ele é pode ser recorrente, mas é possível administrar o problema, minimizando-o
a ponto de não causar os efeitos colaterais nocivos ao corpo”, afirma.
O
especialista informa que não existe um tratamento padrão para o bruxismo e os
profissionais que tratam pacientes com o problema devem estar atentos a todas
as causas. Muitas vezes são necessárias terapias conjuntas, de atuação
interdisciplinar. “O uso de dispositivos intra-bucais, terapias medicamentosas,
terapias cognitivo-comportamentais ou a associação de todas estas estratégias
podem ser necessárias durante o tratamento. A técnica escolhida depende de cada
caso clínico e o objetivo principal é reduzir a tensão da musculatura
mastigatória, minimizar os níveis de ansiedade e controlar a intensidade dos episódios
alérgicos”, acrescenta.
Gerson
I. Köhler e Juarez F. W. Köhler são membros especialistas da ABOR – Associação
Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial, filiada internacionalmente à World
Federation of Orthodontists – WFO – USA e também da Sociedade Brasileira de
Sono. Atuam em Curitiba (PR), em contexto interdisciplinar/multiprofissional
com especialistas em Medicina do Sono.
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