Nessa semana vi que um amigo publicou em uma rede
social: “onde os adultos arrumam tempo para colorir seus livros de colorir?” –
achei uma pergunta bem interessante. Tenho me impressionado bastante com a nova
febre dos “livros de colorir para adultos” que iniciou com o lançamento, em
2014, do livro “O Jardim Secreto” da designer escocesa Johanna Basford.
O
fato é que livros para colorir direcionados ao público adulto não são novidade,
sendo outra linha famosa a coleção “Mandalas de Bolso”, lançada em 2008. Porém,
“O Jardim Secreto” já vendeu mais de 1 milhão de cópias ao redor do mundo e na
última semana foi lançado seu segundo livro no Brasil. Depois deste, autores
semelhantes começaram a estampar sites e vitrines de livrarias. O que os
diferencia?
Um
dos fatores que salta aos olhos é que o primeiro título da autora segue dizendo
ser “a caça ao tesouro antiestresse”, e a propaganda feita em torno da venda do
livro é que o uso deste seria considerado algo terapêutico. Com o uso das redes
sociais e o fácil compartilhamento de informações do momento atual, fica
simples divulgar aos amigos não somente a descoberta de tal “tesouro”, mas
também as pinturas que cada um faz. Porém, minha pergunta é: o livro em si é um
grande “tesouro antiestresse”?
Sim,
colorir é uma atividade que pode ser considerada terapêutica. O uso das cores é
canal chave por exemplo do trabalho da cromoterapia e merece ser explorado em
um texto individual para ver suas interfaces com a Psicologia. Valeria a pena
explorar ainda o uso das mandalas, não somente para colorir, pelo olhar da
Psicologia Analítica, a vertente concebida por Carl Jung.
Mas
volto à pergunta do meu amigo: onde as pessoas estão arranjando tempo para
colorir? Simples. Tais pessoas passaram a crer, pelo boca-a-boca e pela mídia
que as cerca, que existe um jeito simples de fazer terapia, de curar a si
mesmo: colorindo. Ótimo pensar que é possível curar meu estresse sem sair de
casa e pagar um psicólogo, sem tomar remédio, sem mudar de emprego, seja o que
for. Que posso apenas não falar sobre isso, me concentrar e colorir.
Essa
é a genialidade do livro, tirar as pessoas do modus operandi habitual, da
correria do dia a dia para fazer algo para si mesmas, seja lá o que for. Isso é
terapêutico por si só. Milhões de pessoas estão comprando esse livro e
colorindo, ótimo! Estão encontrando um pouquinho de tempo na sua rotina para
“desligar” e estar presente em uma tarefa que consideram terapêutica,
desconectadas. Há pessoas que fazem ioga, esporte, música.
Acho
bastante presunçoso vender um livro com promessas terapêuticas, mas afinal, não
é isso que todo livro de autoajuda faz? Eu, como psicóloga, acho ótimo que
existam inúmeros canais para que as pessoas possam se concentrar em si mesmas
de vez em quando. Em um mundo tão frenético, responderia ao meu amigo, que de
fato, não sobra nunca tempo para as pessoas colorirem seus livros, mas que aos
poucos, vão aparecendo brechas para caber essa atividade.
Vamos
adaptando nosso tempo a novas prioridades quando entendemos que o encontro com
a gente mesmo é tão importante quanto encontrar com os amigos, família ou par
amoroso. Percebo que o fenômeno dos livros para adultos diz: “colorir melhora o
estresse”, o que não discordo, mas completo: marcar com frequência na agenda um
tempo individual consigo mesmo pra fazer algo bacana melhora ainda mais.
Fonte: Rede Psicoterapias
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