A mais triste miséria do mundo é aquela que existe para me trazer
prazer. Por um momento solitário na minha intimidade, uma sensação de arrepio,
um prazer e o relaxamento. Meu orgasmo, embora me traga uma sensação
maravilhosa, é a causa de muita tristeza.
Embora
o tráfico de pessoas seja uma atividade combatida em todo mundo, o pano de
fundo para sua atuação é legalizado, extremamente lucrativo e atuante: a indústria
pornográfica. Nesse conceito se inserem tanto a indústria cinematográfica, como
sites e casas de prostituição.
Hipocrisia
de lado, desde que me conheço na puberdade, sou um consumidor dessa indústria.
Não estou sozinho, a empresa de dados britânica Optenet concluiu a pesquisa que
revelou que mais de um terço da web (37%) é composto de pornografia.
Não
haveria problema algum, não fosse a tristeza que mora atrás de duas pessoas
transando em frente às câmeras.
Recente estudo divulgado pela organização
“Treasures”, voltada ao resgate de pessoas do tráfico sexual,
trouxe números impressionantes da indústria que movimenta mais de R$ 100
bilhões por ano. Estima-se que ultrapassou o tráfico de drogas e alcançou a 2ª
posição no ranking de lucratividade para o crime organizado, ficando apenas
atrás do tráfico de armas. Apenas para se ter uma ideia do valor estupidamente
alto movimentado pela atividade, a cada segundo (!) são gastos mais de R$ 10
mil com pornografia.
São
lançados 11 mil filmes pornográficos por ano, 20 vezes o número de filmes
lançados de todos os gêneros juntos – dados esses somente dos EUA.
Alvo
de 94% da pornografia, as mulheres são as maiores vítimas dessa atividade.
Embora muito discurso de defesa à atividade diga que se trata de empoderamento
da mulher sobre o próprio corpo, dados revelam que o problema é muito mais
complexo. Para se ter uma ideia,90%
das mulheres da indústria do sexo foram abusadas quando crianças. Cerca de 1.4 milhões das mulheres são
escravas sexuais ao redor do mundo. A taxa de desenvolvimento de síndrome de
stress pós traumático é equivalente aos de veteranos de guerras no Eua.
O
país, aliás, é o grande traficante de mulheres no mundo, destacando-se na
produção, consumo e movimentação financeira na indústria. De toda essa quantia,
o estado da Califórnia é responsável por 1/3 dos dados.
Como
tudo que é absurdo ainda pode piorar, no “submundo” da web, acessado via TOR,
programa que torna seu acesso criptografado, pornografia infantil é o tema mais
procurado dentre os usuários. O mundo sangra mulheres e crianças, para a
satisfação da libido de cada um. Homens, embora existam muitos oprimidos pela
indústria, são números ínfimos perto das vítimas desse lucro.
Soma-se
à indústria cinematográfica, outro grande mercado da pornografia: a
prostituição, esta ainda mais problemática. Isso porque a
cinematografia coloca uma tela entre a pessoa e a realidade do mundo atrás
da câmera. A prostituição, por sua vez, vive uma realidade dura, sentida na
pele.
São
milhões de mulheres ao redor do mundo, exploradas e quase sempre desprotegidas
– no Brasil existem associações que lutam pelos direitos das prostituas, mas
não há uma proteção jurídica para elas. Estão à mercê do mercado feroz. Dizer
sobre proteção, ainda que trabalhistas a essas pessoas, é dizer contra a moral
e bons costumes dos homens de bem.
Uma
das maiores hipocrisias nossas ao lidar com a indústria pornográfica é negar
que ela existe. Ou que não a consumimos. Esse vácuo do medo de admitirmos quem
somos, enquanto sociedade patriarcal, o que fazemos e para quem fechamos os
olhos é sentido por todas as mulheres e é extremamente lucrativo para a
indústria pornográfica. É
essa indústria que me fornece prazer. Ou, pelo menos, fornecia.
Não
são precisos 10 minutos de meu tempo, cliques em meia dúzia de links para se
concluir o óbvio: não vale a pena. É muita energia depositada em algo que vem
com muita miséria, muito abuso sexual. Muita tristeza. Fica difícil não olhar
para as pessoas em frente à câmera, buscando de alguma forma desesperada passar
a imagem de um prazer insano, e não sentir pena.
Então,
voltando ao título. Vai procurar pornografia para sentir prazer? Pense duas
vezes.
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