Descrito
pela psiquiatria contemporânea oficialmente desde 1980, quando apareceu no
Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (o DSM), o
transtorno do pânico é também citado no Código Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (o CID-10), publicado pela Organização Mundial
de Saúde.
O
transtorno do pânico caracteriza-se por um período de intenso temor ou
desconforto no qual quatro dos seguintes sintomas surgem abruptamente:
palpitações ou ritmo cardíaco acelerado; sudorese; tremores ou abalos; sensação
de falta de ar ou sufocamento; sensação de asfixia; dor ou desconforto
torácico; náuseas ou desconforto abdominal; sensação de tontura, instabilidade,
vertigem ou desmaio; desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização
(estar distanciado de si mesmo); medo de perder o controle ou enlouquecer; medo
de morrer; anestesia ou sensação de formigamento e calafrios ou ondas de calor.
O
pânico é uma reação de ansiedade em relação a sensações do próprio corpo.
Enquanto nas fobias a pessoa sente ansiedade em relação a um objeto externo, no
pânico ela fica ansiosa frente ao que sente em seu próprio corpo. Esta é uma
das características centrais do pânico: os perigos vêm de dentro, vêm do
próprio corpo, numa sensação de grande angústia.
Os
sintomas sugerem que o indivíduo está sob ameaça de algo terrível, do qual
precisa fugir, embora não haja perigo concreto aparente. Em 1895, Freud
descreveu a neurose de angústia nos mesmos moldes em que hoje é descrito o
transtorno do pânico, com manifestações corporais e ataque de angústia, sem
nenhuma representação psíquica, além de um sofrimento intenso. Freud assinala
ser possível que o sujeito venha a recorrer “à interpretação que estiver mais à
mão” (medo de morrer, loucura, crença no distúrbio de uma função corporal) como
uma tentativa de configuração, de uma busca de explicação causal, que poderia
reduzir sua angústia.
O
transtorno do pânico pode parecer não possuir significado psicológico. Os
ataques podem surgir “inesperadamente”, sem desencadeantes ambientais ou
intrapsíquicos conhecidos. Por vezes a pessoa fala do pânico como algo
totalmente alheio à sua experiência, à sua história, sem qualquer conexão com
suas emoções ou com sua história de vida. Expressa-se como se tivesse uma virose
ou sido contaminada por algo desconfortável, incômodo, estranho, alheio à sua
pessoa.
Para a
Psicanálise, entretanto, existe um sofrimento psíquico que precisa ser
reconhecido, sobretudo pelo próprio paciente. É importante lembrar que Freud
mostrou o desamparo como condição intrínseca do bebê humano ao lado da
importância e da necessidade de um outro para que cada um de nós sobreviva e se
desenvolva biológica e psiquicamente. Assim, o pânico corresponderia à angústia
decorrente da percepção do desamparo e da impossibilidade de tolerar essa
condição, algo sempre presente na experiência humana e não restrito aos tempos
atuais.
Para o
psicanalista, a tarefa seria levar o paciente a se envolver no seu sofrimento,
a desenvolver interesse e curiosidade com o que acontece a si próprio, para que
possa encontrar um significado nos seus sintomas.
Em geral os pacientes apresentam
dificuldades frente à ameaça de perda de vínculos, intolerância às frustrações,
dificuldade de pensar e conter seus estados emocionais, ao lado de fragilidade
no senso de identidade pessoal e aspectos ligados à dependência.
O
trabalho psicanalítico é uma experiência que pode auxiliar o desenvolvimento
psíquico, expandir o mundo interno com maior participação de fantasias e de
sentimentos. Assim, é possível que, ao longo do tempo, o paciente encontre
outras formas de expressar e de lidar com seu sofrimento.
O
objetivo do psicanalista é, então, despertar o interesse do paciente para seu
próprio funcionamento psíquico, a partir de um encontro vivo entre duas pessoas
que se comunicam. Por meio do acolhimento que ocorre nesta relação, espera-se
que o paciente possa estabelecer vínculos mais consistentes consigo mesmo e com
a vida.
*Norma
Lottenberg Semer é psicanalista, membro associado da SBPSP, doutora em Saúde
Mental e professora afiliada na UNIFESP. Psicoquê
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