O site da Folha convidou alguns especialistas
brasileiros para comentarem 10 dos pecados que podem ser cometidos pelos
psicólogos na hora do atendimento. Entre eles, Roberto Banaco.
1 - Comer na frente do
paciente
Esporadicamente, no
caso de uma sessão extra pedida pelo paciente e marcada no horário de uma
refeição, por exemplo, a atitude é aceitável, afirma o psicólogo Roberto
Banaco, professor titular da PUC-SP.
"É melhor oferecer apoio ao cliente comendo do que negar esse apoio por falta de horário", diz Banaco. Mas necessidades pessoais como essa deveriam acontecer em outro contexto. "Comer na sessão mostra desrespeito pelo paciente", diz Wielenska.
"É melhor oferecer apoio ao cliente comendo do que negar esse apoio por falta de horário", diz Banaco. Mas necessidades pessoais como essa deveriam acontecer em outro contexto. "Comer na sessão mostra desrespeito pelo paciente", diz Wielenska.
O terapeuta da
estudante Denise Thornberg, 22, transformou isso num hábito. Nas sessões,
consumia Coca-Cola light e confeitos de chocolate. "Ele estava sempre com
uma garrafinha de Coca na mão. Eu não gostava", conta.
Para o médico e psicanalista Sérgio Cyrino, filiado à Federação Brasileira de Psicanálise, isso não deve ocorrer jamais. "O analista não deve comer, oferecer ou aceitar comida."
Para o médico e psicanalista Sérgio Cyrino, filiado à Federação Brasileira de Psicanálise, isso não deve ocorrer jamais. "O analista não deve comer, oferecer ou aceitar comida."
2 - Atender ao
telefone
Emergências acontecem. O terapeuta pode ter de atender um paciente internado ou com risco de suicídio, por exemplo.
Nesse caso, o mais
aconselhável é avisar antecipadamente ao paciente que isso pode acontecer e ser
breve. "Se existir essa possibilidade, o terapeuta deveria dizer que, em
caráter excepcional, pode ser necessário atender a uma ligação urgente. Mas
isso deve ser raro, não pode se tornar um hábito", afirma Wielenska.
Atender a ligações de
outro tipo é desaconselhável. "Imagine quando se interrompe um comunicado
[do paciente] de intenso conteúdo emocional bem no meio. A compreensão, ao ser
fragmentada, perde todo o sentido. O paciente se sente deixado em segundo
plano. Como é que se conserta isso depois?", diz Cyrino.
3 - Tomar notas em
excesso
A figura do analista
com um bloquinho na mão, que aparece em charges e filmes, é um falso símbolo da
psicanálise, diz Cyrino. "Freud não anotava durante as sessões porque isso
fragmenta a compreensão da situação da análise. Quem interrompe para tomar
notas perde o fio da meada. O pensamento é muito mais rápido do que a palavra
escrita. E o paciente se sente perseguido."
Para Banaco,
anotações, quando ocorrem, podem ser feitas rapidamente por meio de
palavras-chave, como lembretes para serem "recheados" com conteúdos
nos intervalos entre sessões.
Denise Thornberg conta
que seu terapeuta escrevia tanto que a incomodava. "Ele não me olhava nos
olhos. Para Wielenska, o terapeuta deve pedir autorização para anotar e manter
o contato com ele enquanto faz isso. "Quem trabalha frente a
frente com alguém deve preservar o olhar e a atenção."
4 - Atrasar-se para a sessão
4 - Atrasar-se para a sessão
O terapeuta pode ter
que ficar mais tempo com um paciente, o que acarretará atrasos nas sessões
seguintes. Mas, de novo, isso não deve ser hábito. "Quando o profissional
estender a sessão desse cliente, ele saberá que os atrasos devem-se ao
acolhimento para quem precisa, em contraposição à regra fria de que a sessão
dura "X" minutos", diz Banaco. Ele acredita que, quando a demora
é grande, o terapeuta deve dar satisfação a quem aguarda.
Para Cyrino, o atraso é muito comprometedor. "O analista deve sempre aguardar o paciente, para que ele tenha uma sensação de constância dentro da instabilidade afetiva que o traz ao tratamento. Como interpretar atrasos constantes de um paciente, que podem ter mil acepções, se o analista também se atrasa?", questiona.
Para Cyrino, o atraso é muito comprometedor. "O analista deve sempre aguardar o paciente, para que ele tenha uma sensação de constância dentro da instabilidade afetiva que o traz ao tratamento. Como interpretar atrasos constantes de um paciente, que podem ter mil acepções, se o analista também se atrasa?", questiona.
5 - Ser pouco
acessível
Segundo os
especialistas, deve haver um meio-termo em relação a esse item. Por um lado,
não é recomendável que o cliente desenvolva uma extrema dependência do
terapeuta. "Um paciente carente pode querer estar ligado 24 horas ao
analista, como se fosse um bebê em simbiose com a mãe", compara Cyrino.
Por outro lado, estar
inteiramente fora do alcance, especialmente em situações graves, não é
aconselhável. "O terapeuta não pode ser impossível nem dar a impressão de
disponibilidade total, como se fosse só do paciente -o que é um desejo frequente
e compreensível", diz o psicanalista.
De acordo com Wielenska, cada terapeuta tem suas preferências em relação a esse assunto. "Alguns liberam celular e e-mail, outros autorizam o cliente a deixar recado. Eles devem colocar esses limites assim que começam a atender uma pessoa", afirma.
De acordo com Wielenska, cada terapeuta tem suas preferências em relação a esse assunto. "Alguns liberam celular e e-mail, outros autorizam o cliente a deixar recado. Eles devem colocar esses limites assim que começam a atender uma pessoa", afirma.
6 - Olhar demais para
o relógio
O terapeuta precisa
controlar o tempo. Mas olhar demais para o relógio pode dar a impressão de que
ele tem pressa para terminar a consulta.
Denise Thornberg trocou o terapeuta que tomava refrigerante por outra e está gostando. Mas diz que a atual olha demais para o relógio. "Enquanto eu falo, ela fica de olho para ver quando a sessão vai acabar. Isso desvia minha atenção. Penso: 'Será que estou falando muita coisa sem sentido?'."
Segundo Cyrino, com a experiência, o terapeuta ganha uma noção de tempo automática. "Mas ele não é máquina. Um recurso é ter um relógio num lugar discreto e consultá-lo sem caráter ostensivo." Já se isso ocorrer com um paciente específico, o terapeuta deve se perguntar o que está acontecendo na relação com ele.
Denise Thornberg trocou o terapeuta que tomava refrigerante por outra e está gostando. Mas diz que a atual olha demais para o relógio. "Enquanto eu falo, ela fica de olho para ver quando a sessão vai acabar. Isso desvia minha atenção. Penso: 'Será que estou falando muita coisa sem sentido?'."
Segundo Cyrino, com a experiência, o terapeuta ganha uma noção de tempo automática. "Mas ele não é máquina. Um recurso é ter um relógio num lugar discreto e consultá-lo sem caráter ostensivo." Já se isso ocorrer com um paciente específico, o terapeuta deve se perguntar o que está acontecendo na relação com ele.
7 - Bocejar demais
Bocejar não é o
problema: como qualquer pessoa, o terapeuta pode estar cansado em um
determinado dia. A questão é quando a atitude se torna um hábito, que costuma
ser interpretado pelo paciente como falta de interesse.
Mas, se o terapeuta não encontrar explicação para o sono e ele ocorrer sempre com um paciente específico, esse fato pode se tornar uma informação importante na terapia. "O cliente pode ter um padrão de comportamento que gera tédio também fora do consultório", diz Regina Wielenska. "Mas essa atitude [bocejar] deve ser contida, pois a terapia requer foco e concentração."
Mas, se o terapeuta não encontrar explicação para o sono e ele ocorrer sempre com um paciente específico, esse fato pode se tornar uma informação importante na terapia. "O cliente pode ter um padrão de comportamento que gera tédio também fora do consultório", diz Regina Wielenska. "Mas essa atitude [bocejar] deve ser contida, pois a terapia requer foco e concentração."
Já dormir é tido como
inadmissível. "Se o terapeuta percebe que não suporta o sono, deve
suspender a sessão", diz Roberto Banaco.
8 - Contato físico
excessivo
No Brasil, costuma ser aceito
um maior contato físico ao cumprimentar alguém. "Na nossa cultura, é
normal dar um beijinho ou um ligeiro abraço. O terapeuta pode fazer isso com
leveza e rapidez, sem tom erótico", diz Wielenska.
Mas deve haver limites. "Por ser uma relação facilmente confundida com uma relação afetiva, um contato físico exacerbado pode atingir fragilidades dos clientes. Trata-se de um abuso da relação desigual que se instala no contrato terapêutico: o cliente tem problemas e o terapeuta tem soluções", afirma Banaco.
Segundo Cyrino, muitas terapias psicológicas usam o contato físico no tratamento, mas não a psicanálise. "Para essa corrente, o excessivo contato físico favorece a dependência emocional do paciente, dificultando seu crescimento." Vale lembrar que o contato sexual entre terapeuta e cliente não é adequado em nenhum caso.
Mas deve haver limites. "Por ser uma relação facilmente confundida com uma relação afetiva, um contato físico exacerbado pode atingir fragilidades dos clientes. Trata-se de um abuso da relação desigual que se instala no contrato terapêutico: o cliente tem problemas e o terapeuta tem soluções", afirma Banaco.
Segundo Cyrino, muitas terapias psicológicas usam o contato físico no tratamento, mas não a psicanálise. "Para essa corrente, o excessivo contato físico favorece a dependência emocional do paciente, dificultando seu crescimento." Vale lembrar que o contato sexual entre terapeuta e cliente não é adequado em nenhum caso.
9 - Falar demais sobre
si mesmo
A sessão é do cliente,
e não do terapeuta. "No entanto, temos bagagem, história de vida e, em
situações específicas, ela pode ser usada em benefício da terapia", diz
Wielenska.
Mas, se o terapeuta
sente falta de amigos, não deve buscá-los nos clientes. "O analista pode
estar carente, pois é de carne e osso. Nesse caso, deve redobrar a atenção para
não misturar sua vida à do paciente. Muitos gostariam de ser amigos do
analista, mas isso desvirtua o foco da terapia", diz Cyrino.
A chave é ver se há propósito terapêutico. "Qualquer fala sobre si mesmo que não tenha um propósito terapêutico é uma fala em demasia", diz Banaco.
Segundo ele, se o paciente tem o terapeuta como modelo e segue seus conselhos cegamente ou o imita, expor a vida pessoal é ainda mais danoso.
10 - Vestir-se inadequadamente
A chave é ver se há propósito terapêutico. "Qualquer fala sobre si mesmo que não tenha um propósito terapêutico é uma fala em demasia", diz Banaco.
Segundo ele, se o paciente tem o terapeuta como modelo e segue seus conselhos cegamente ou o imita, expor a vida pessoal é ainda mais danoso.
10 - Vestir-se inadequadamente
Como qualquer pessoa,
o terapeuta tem seu estilo e não precisa abrir mão dele no ambiente
profissional. "Atendemos surfistas, publicitários, executivos. Não podemos
ser camaleões para nos ajustarmos ao estilo de cada cliente. O terapeuta só não
pode estar vestido de maneira profundamente chamativa, vulgar, suja ou
descuidada. O resto é uma questão pessoal", diz Wielenska.
De fato, há limites. "Deixar à vista longas extensões de pele não é desejável: bermudas, camisas abertas, decotes pronunciados ou saias tão curtas que mostrem a roupa de baixo são absolutamente inapropriados", lista Banaco.
Para Cyrino, o foco não deve ser o terapeuta, inclusive no quesito vestimenta. "Não é necessário vir de batina, mas o oposto faz com que o foco de atenção se desvie do paciente para o analista. E é o paciente que veio mostrar seus conteúdos", diz Cyrino.
De fato, há limites. "Deixar à vista longas extensões de pele não é desejável: bermudas, camisas abertas, decotes pronunciados ou saias tão curtas que mostrem a roupa de baixo são absolutamente inapropriados", lista Banaco.
Para Cyrino, o foco não deve ser o terapeuta, inclusive no quesito vestimenta. "Não é necessário vir de batina, mas o oposto faz com que o foco de atenção se desvie do paciente para o analista. E é o paciente que veio mostrar seus conteúdos", diz Cyrino.
Matéria completa: FOLHA
Um comentário:
Tenho adorado todos seus textos. Eu mesmo tenho um blog (wwwcleber2010.blogspot.com) e os uso em algumas ocasiões falando da autoria. O de hoje particularmente me interessou. Talvez o meu pecado seja de como definir o tempo. Procuro não olhar no relógio.
Agora um detalhe. Veja a sua apresentação "O site da *Folha* convidou alguns especialistas brasileiros para comentarem 10 dos pecados que podem ser cometidos pelos psicólogos na hora do atendimento. Entre eles, Roberto Banaco."
Roberto Benaco é um dos pecados?
Um grande abraço e continue fazendo bem este blog tão bem vindo para mim.
Postar um comentário