sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Depressão: algumas considerações sobre o diagnóstico

Sabe aquele dia em que você acorda de mau humor, sem vontade de fazer nada, nem mesmo as coisas que você adora fazer, querendo ficar na cama o dia todo, desanimado, triste, com vontade de chorar, sem esperanças, não acha graça em nada, se sentindo feio, incapaz, angustiado, não consegue se concentrar ou se decidir, não quer sair de casa e muito menos ver ninguém? Não sabe? Que bom! Então de acordo com o DSM você não está sofrendo de depressão. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) é um instrumento que lista diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, e é utilizado por profissionais da área da Saúde Mental. De acordo com esse Manual, o indivíduo que apresenta esses (dentre outros que não foram citados) “sintomas” em média por mais de duas semanas, pode ser diagnosticado com depressão. Quase todos os itens listados podem ser observados em uma pessoa considerada deprimida, mas podem ser também observados, vez por outra, em uma pessoa não deprimida. O que distingue uma pessoa de outra é a frequência dos comportamentos em relação ao seu repertório total. (Ferster, 1977).

No entanto, não podemos reduzir um fenômeno tão complexo como a depressão a apenas uma lista de sintomas. Então, o que os profissionais da área podem fazer para diagnosticar? “Uma equipe de pesquisadores da Áustria descobriu uma forma de diagnosticar depressão em pacientes por meio de um exame sanguíneo – eliminando assim a necessidade das longas entrevistas para saber se a pessoa realmente sofre da doença.” (http://gizmodo.uol.com.br/cientistas-descobrem-metodo-para-diagnosticar-depressao-a-partir-de-exame-sanguineo/). Não se sabe se essa frase descrita na reportagem é uma releitura da opinião dos pesquisadores ou se é somente uma forma que o autor da matéria utilizou para expor a informação. De qualquer forma, a frase leva a entender que existe uma certa pressa em obter dados sobre a depressão e que esse procedimento pode acelerar o processo diagnóstico. É certo que as transformações tecnológicas estão modificando diversas maneiras de lidar com a saúde/doença humana, e isso com certeza oferece grandes benefícios, principalmente em relação à agilidade. Mas, no caso da depressão especificamente, será que não correm o risco de negligenciar processos importantes para o diagnóstico, como as “longas” entrevistas utilizadas pela Psicologia (dentre outras técnicas)?

Para a Análise do Comportamento a depressão está relacionada a uma redução generalizada no repertório comportamental do indivíduo e na sua responsividade ao ambiente (Cavalcante, 1997). “Como o conceito comportamentalista de depressão define os comportamentos da pessoa deprimida funcionalmente e não topograficamente, o dado mais importante é frequência” (Ferster, Culbertson & Perrot-Boren, 1977, p. 707). O tipo de informação fornecida pelo cliente que se queixa de depressão é extremamente relevante tanto para o diagnóstico quanto para a intervenção e não é encontrado no sangue, mas por meio de um processo terapêutico que inclui “longas” entrevistas com objetivos bem definidos. Além disso, a depender do tipo de contingência teremos um quadro diferente para cada indivíduo. A função do comportamento em questão pode ser completamente diferente para pessoas com o mesmo diagnóstico, pois, cada organismo possui uma história específica em três níveis de seleção que é exposto a inúmeras possíveis combinações de contextos aversivos.

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