Por Roberta Sales da Costa
Poderíamos
comparar o terapeuta iniciante aos desbravadores dos livros de história, na
medida em que assim como eles, ao longo de nossa missão de “tornar-se
terapeuta” nos expomos a um caminho de muitas descobertas. Primeiramente, ao
contrário do que muitas pessoas imaginam, tornar-se terapeuta não é um processo
fácil, por meio do qual simplesmente se aprende a ouvir problemas e ser amigo
de uma pessoa que está passando por algum sofrimento em sua vida. Tornar-se
terapeuta consiste em uma tarefa complexa, para a qual o curso de Psicologia é
apenas o primeiro passo, uma vez que além do conhecimento da abordagem teórica
escolhida, é necessário o desenvolvimento de diversas habilidades pessoais, que
por sua vez, também não são incluídas em nosso repertório de forma
gratuita.
Além disso,
vale apontar, que a própria compreensão sobre o que é ser terapeuta revela-se
enquanto algo a ser descoberto, afinal, definitivamente, não seremos os
super-heróis que gostaríamos, capazes de ajudar as pessoas a resolverem todos
os seus problemas. Descobre-se ao longo das entrevistas e atendimentos
realizados, que realmente somos responsáveis pela condução adequada do
tratamento, no entanto, o nosso papel tem limitações importantes e a
efetividade da psicoterapia, depende também (e talvez, principalmente) do
engajamento do cliente, de modo que o mesmo se disponha a promover mudanças em
seus comportamentos e assim obter os resultados esperados, tais como a obtenção
de reforçadores, em especial os positivos e a redução de condições aversivas
(ou ao menos um repertório que possibilite lidar com elas).
Nesse
sentido, também descobrimos que há uma diferença significativa entre saber as
regras para exercitar a atividade clínica e de fato aplicá-las. Quando
aprendemos nas aulas, por meio da leitura de livros e artigos ou em congressos,
que devemos ser empáticos, parece não haver segredos para nos colocarmos no
lugar do cliente. Lembro-me claramente da minha primeira triagem, na qual a
cliente começou a chorar logo no início do preenchimento da ficha de dados
pessoais e eu entreguei-lhe um lenço, aguardei alguns segundos na torcida de
que ela parasse rapidamente (pois eu não sabia o que fazer) e em seguida dei
continuidade às perguntas. Hoje, reconheço que minha atitude diante daquela
cliente não foi das mais acolhedoras, de modo que nas triagens seguintes que
realizei, eu procurei ser empática de verdade e quando o cliente chorou, não me
comportei no sentido de reduzir ou barrar seu choro, tendo em vista que o
setting terapêutico é justamente o espaço propício para que ele possa expor
seus sentimentos.
Para que se construa no contexto terapêutico esse
ambiente que permita ao cliente expor-se sem reservas, é importante que o
terapeuta se comporte como uma audiência não punitiva. Segundo Skinner (1953),
o terapeuta representa um tipo de ouvinte específico, com vistas a fornecer um
ambiente diferenciado, que não ofereça reprovação ou punição para qualquer
resposta emitida ou relatada pelo cliente em sessão. Esse é um direcionamento
claro, deve-se ouvir o cliente com atenção, demonstrando compreensão e
aceitação do que está sendo dito.
Leia o texto completo em: Comporte-se
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