Esse é um sintoma típico de nossa época atual. Um mal que acomete várias
pessoas independente de idade, sexo ou grau de instrução. Quando lemos os
dados publicados pela Organização Mundial de Saúde OMS nos surpreendemos ao
saber que esse transtorno é o mal mais comum entre as mulheres, ao ponto de
superar até mesmo o câncer de mama e doenças cardíacas.
Segundo pesquisas o peso da depressão na ocorrência de infarto é tão
grande que passou a ser considerado um fator de risco isolado pela Federação
Mundial de Cardiologia. (Revista Veja 2002). Outro dado que temos que levar em
consideração é que essa “doença da alma”, como é chamada, é a quinta maior
questão de saúde pública e se nada mudar em 2020 será a segunda causa mortis.
E o que será que causa esse mal estar tão devastador? Que causas estão
por trás desse transtorno que se apodera e causa tanto mal para aqueles que tem
a depressão e para os que os cercam? Porque a depressão chega até mesmo a
impossibilitar que homens e mulheres fiquem impedidos de viverem normalmente,
de namorar, trabalhar, estar com amigos, colegas,etc.?
Será que a explicação é somente biológica? Atribuída a baixa dos
neurotransmissores serotonina ou existem outras explicações?
Podemos dizer por toda nossa experiência clínica e em relação a todos os
estudos e prática da psicanálise no mundo inteiro, que existem outras causas,
pois a depressão nunca ocorre como um fato isolado sem relação com a vida do
sujeito sofredor. Não existe depressão que ocorra por “casualidade”, ela está
sempre ligada a algum acontecimento ou até vários acontecimentos ao longo da
história daquele que está deprimido.
Esse “algo” não foi elaborado emocionalmente, pode ter sido a perda de
um trabalho, separação, morte de um ente querido, dificuldades no trabalho,
etc. A lista pode ser imensa, e isso ocorre porque somos afetados em
nosso corpo pela nossa psique, pelo nosso inconsciente. Somos afetados por
aquilo que falamos ou deixamos de falar. E geralmente os sujeitos deprimidos
são aqueles que cedem muito em relação ás palavras, ao que querem dizer e ao
que querem fazer.
São pessoas que costumeiramente não dizem ou fazem o que querem e sim o
que acha que o outro quer que ele ou ela faça. Cedem tanto que chegam ao ponto
de não conseguirem levantar da própria cama para fazer coisas de seu cotidiano.
Em nossos consultórios recebemos pacientes que sofrem de depressão e
tomam medicação á pouco ou muito tempo e parecem que se arrastam ao invés de
andar. Dizem que não sentem desejo de viver, de trabalhar, acordar, levantar e
estar com outros. “Eu não vivo, eu me arrasto”, “parece que carrego bolas
de ferro nos meus pés”, “ a vida não tem mais sentido”, são algumas das
expressões que escutamos.
O que mostram é uma tristeza e um pesar que os impossibilitam de estar
com outros. São pessoas que sofrem cotidianamente e fazem sofrer toda a sua
família. Alguns estão afastados ou perderam o trabalho. E á medida que contam
sua história na análise– a atual e a de sua infância – se dão conta de que são
afetados em seu corpo e mente pelo que dizem, deixaram de dizer e
principalmente pelo que viveram em sua infância.
Descobrem que seu corpo não responde somente ao biológico, que o que
sentem reflete em seu comportamento e sua felicidade. E para esta última não
foi descoberto um gene que seja o responsável. Á medida que falam sobre sua
história e escuta o que dizem sobre sua relação com os outros, percebem o que
tem feito com sua vida e com os que o rodeiam.
Aos poucos fazem descobertas, trazem lembranças que estavam trancadas em
seu baú de significantes. Recuperam sua autoestima, tornam-se donos
de suas palavras, de suas vontades e de seus desejos. Esse processo possibilita
que a vida desses pacientes tenha sentido, algo que eles tinham perdido
outrora.
Quando falam e elaboram suas emoções isso repercute em seu corpo que
deixa de ser invadido por sensações desagradáveis. Assim, deixam de ser
marionetes do discurso e tornam-se responsáveis por aquilo que antes ignoravam
– seu desejo. E se não existe um gene que seja responsável pelo
desejo de viver e de existir, é necessário que cada um se encarregue de sua
história, seu destino e sua felicidade.
Isso é o que vemos acontecer na análise desses pacientes que acreditavam
que estavam condenados a sofrer. Ao invés de alimentarem a depressão com a
falta de palavras, alimentam seu corpo de desejo.
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