sábado, 2 de maio de 2015

Sobre a Depressão

Esse é um sintoma típico de nossa época atual. Um mal que acomete várias pessoas independente  de idade, sexo ou grau de instrução. Quando lemos os dados publicados pela Organização Mundial de Saúde OMS nos surpreendemos ao saber que esse transtorno é o mal mais comum entre as mulheres, ao ponto de superar até mesmo o câncer de mama e doenças cardíacas.

Segundo pesquisas o peso da depressão na ocorrência de infarto é tão grande que passou a ser considerado um fator de risco isolado pela Federação Mundial de Cardiologia. (Revista Veja 2002). Outro dado que temos que levar em consideração é que essa “doença da alma”, como é chamada, é a quinta maior questão de saúde pública e se nada mudar em 2020 será a segunda causa mortis.

E o que será que causa esse mal estar tão devastador? Que causas estão por trás desse transtorno que se apodera e causa tanto mal para aqueles que tem a depressão e para os que os cercam? Porque a depressão chega até mesmo a  impossibilitar que homens e mulheres fiquem impedidos de viverem normalmente, de namorar, trabalhar, estar com amigos, colegas,etc.?

Será que a explicação é somente biológica? Atribuída a baixa dos neurotransmissores serotonina ou existem outras explicações?

Podemos dizer por toda nossa experiência clínica e em relação a todos os estudos e prática da psicanálise no mundo inteiro, que existem outras causas, pois a depressão nunca ocorre como um fato isolado sem relação com a vida do sujeito sofredor. Não existe depressão que ocorra por “casualidade”, ela está sempre ligada a algum acontecimento ou até vários acontecimentos ao longo da história daquele que está deprimido.

Esse “algo” não foi elaborado emocionalmente, pode ter sido a perda de um trabalho, separação, morte de um ente querido, dificuldades no trabalho, etc.  A lista pode ser imensa, e isso ocorre porque somos afetados em nosso corpo pela nossa psique, pelo nosso inconsciente. Somos afetados por aquilo que falamos ou deixamos de falar. E geralmente os sujeitos deprimidos são aqueles que cedem muito em relação ás palavras, ao que querem dizer e ao que querem fazer.

São pessoas que costumeiramente não dizem ou fazem o que querem e sim o que acha que o outro quer que ele ou ela faça. Cedem tanto que chegam ao ponto de não conseguirem levantar da própria cama para fazer coisas de seu cotidiano.

Em nossos consultórios recebemos pacientes que sofrem de depressão e tomam medicação á pouco ou muito tempo e parecem que se arrastam ao invés de andar. Dizem que não sentem desejo de viver, de trabalhar, acordar, levantar e estar com outros.  “Eu não vivo, eu me arrasto”, “parece que carrego bolas de ferro nos meus pés”, “ a vida não tem mais sentido”, são algumas das expressões que escutamos.

O que mostram é uma tristeza e um pesar que os impossibilitam de estar com outros. São pessoas que sofrem cotidianamente e fazem sofrer toda a sua família. Alguns estão afastados ou perderam o trabalho. E á medida que contam sua história na análise– a atual e a de sua infância – se dão conta de que são afetados em seu corpo e mente pelo que dizem, deixaram de dizer e principalmente pelo que viveram em sua infância.

Descobrem que seu corpo não responde somente ao biológico, que o que sentem reflete em seu comportamento e sua felicidade. E para esta última não foi descoberto um gene que seja o responsável. Á medida que falam sobre sua história e escuta o que dizem sobre sua relação com os outros, percebem o que tem feito com sua vida e com os que o rodeiam.

Aos poucos fazem descobertas, trazem lembranças que estavam trancadas em seu baú de   significantes. Recuperam sua autoestima, tornam-se donos de suas palavras, de suas vontades e de seus desejos. Esse processo possibilita que a vida desses pacientes tenha sentido, algo que eles tinham perdido outrora.

Quando falam e elaboram suas emoções isso repercute em seu corpo que deixa de ser invadido por sensações desagradáveis. Assim, deixam de ser marionetes do discurso e tornam-se responsáveis por aquilo que antes ignoravam – seu desejo.   E se não existe um gene que seja responsável pelo desejo de viver e de existir, é necessário que cada um se encarregue de sua história, seu destino e sua felicidade.

Isso é o que vemos acontecer na análise desses pacientes que acreditavam que estavam condenados a sofrer. Ao invés de alimentarem a depressão com a falta de palavras, alimentam seu corpo de desejo.

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