“Todo casal se desentende de
vez de em quando. Você pode estar em um dia difícil e qualquer discordância já
se torna motivo para uma discussão com o parceiro. Mas atenção: evite brigar na
frente do seu filho.”
Todo
casal se desentende de vez de em quando. Você pode estar em um dia difícil e
qualquer discordância já se torna motivo para uma discussão com o parceiro. Mas
atenção: evite brigar na frente do seu filho. Até os 7 anos, principalmente,
ele ainda não terá domínio total da linguagem – o vocabulário é restrito e
dificulta que compreenda o que está acontecendo na família. No momento do
conflito, pode ser que os pais troquem respostas ríspidas e riam com ironia.
Isso fará com que a criança fique confusa e, mesmo sem entender o contexto,
absorva a hostilidade e a tensão do ambiente.
Um
estudo organizado pela Southern Methodist University, em Dallas (EUA),
constatou que as brigas de casal costumam interferir em quem está ao redor.
Analisando 203 famílias por 15 dias, os cientistas descobriram que, após o
conflito, os homens tendem a ficar mais distantes dos filhos do que as
mulheres. “Os pais estão se inserindo cada vez mais no cotidiano familiar. É
esperado que tenham mais dificuldade de lidar com determinadas situações”,
explica Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP). “Após a inserção
na vida profissional, a figura feminina é cobrada a ter autocontrole e a expor
menos as emoções quando estiver no trabalho. Isso se reflete em casa.”
Se
as brigas forem frequentes ou, mesmo raras, envolverem ameaças e violência
física e verbal, seu filho ficará em estado constante de insegurança. “Por
empatia, ele vai se envolver e chorar junto com os adultos, apesar de não compreender
a briga”, explica a especialista. E tem mais: até 5 anos, é comum que a criança
seja egocêntrica e se sinta responsável por tudo o que acontece ao redor dela.
Certamente, observará a briga dos pais e imaginará que é a culpada – achará que
fez algo de errado ou que os decepcionou de alguma forma. Também é provável que
fique ansiosa e mais introvertida em ambientes estranhos. “Terá medo de se
envolver em conversas, pensando que tudo terminará em conflito”, esclarece
Patrícia Bader Santos, psicóloga do Hospital São Luiz (SP). Sem contar a
questão do exemplo: você é a referência de comportamento do seu filho. Caso
resolva todos os problemas por meio de brigas, ele vai seguir a mesma conduta
na escola ou na vizinhança.
E
se o casal cometer um deslize e deixar escapar uma discussão na frente da
criança? Após 7 anos, o aparelho cognitivo já estará mais amadurecido e ela
terá competência intelectual para entender a questão da temporalidade. Saberá
que os adultos farão as pazes em breve. Você pode reforçar isso e dizer que
“Daqui a pouco, passa. Você também já brigou com seus amigos e continua
gostando deles do mesmo jeito, certo?”. Para as mais novas, é importante
enfatizar exatamente isso: uma discussão não mudará os laços de amor que
existem entre o casal. Elas vão ficar inseguras e ansiosas por não saberem o
que fazer para trazer a harmonia de volta. “Uma boa dica é dar uma ocupação
prática aos filhos e dizer como eles podem ajudar”, explica Calegari. Sugira,
por exemplo, que assistam a um filme enquanto você descansa. Ou que brinquem
sozinhos por um determinado período, até que esteja disposto novamente.
Tome
cuidado para não falar mal de seu parceiro para a criança. É comum que, após a
briga, o pai e a mãe tentem ganhar o apoio dela. “Não é aconselhado desabafar
na frente do filho, na infância. Ele ainda não dá conta das próprias angústias,
que dirá da dos adultos”, afirma Calegari. Também jamais discuta sobre a
educação infantil diante deles. Até 10 anos, a criança sente que os pais estão
desestruturados e não consegue entender o motivo das divergências. Portanto,
tente combinar previamente qual será a conduta diante de uma desobediência
dela, por exemplo. Discordou de algo que seu parceiro fez? Manifeste isso só
quando estiverem a sós.
Quando a
discussão é boa:
A
família pode muito bem vivenciar um debate com a presença (e a participação)
das crianças. Diferentemente de uma briga, esse tipo de conversa ocorre quando
cada um tem uma opinião diferente sobre o assunto – e consegue manifestá-la sem
agressões. Vocês podem conversar sobre qual será o destino da próxima viagem,
por exemplo. Cada um apresenta seus argumentos e, sem briga, chega-se a um
consenso. “É uma boa forma de estimular a criança a ter senso crítico e a
respeitar visões diferentes da dela. Ela perceberá que discordar não é sinônimo
de desamor”, conclui a psicóloga Patrícia Bader.
Fonte: Revista Crescer
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