terça-feira, 13 de novembro de 2012

"Por que o sexo é divertido?"


A Psicologia Evolutiva vem ganhando espaço nas rodas de discussão dentro e fora da academia, especialmente no que diz respeito aos seus desdobramentos para o comportamento humano. Há, no entanto, uma escassez de bibliografia em português que trate este assunto de forma científica e ao mesmo tempo acessível. O livro "Por que o sexo é divertido?" de Jared Diamond vem preencher esta lacuna.



O autor aborda vários aspectos da sexualidade humana, tais como a privacidade do sexo, a batalha dos sexos, a lactação exclusivamente feminina, o sexo como diversão, os papéis masculinos, a evolução da menopausa e dos sinais físicos. Ao abordar estes aspectos, Jared Diamond explora como e porque a vida sexual da espécie humana difere, em vários aspectos radicalmente, da de outros animais. Para explicar estas características distintas o autor apela para razões evolutivas, recorrendo freqüentemente a estudos realizados com animais e relatos antropológicos da cultura e costumes de sociedades primitivas.
 

O autor inicia o livro com uma descrição do que denomina de "comportamento sexual bizarro dos seres humanos": a reunião de pares em um longo relacionamento, o cuidado dos filhos pelos dois parceiros, a vida em território comum a outros casais e membros avulsos dos dois sexos, o sexo privado, a ovulação oculta, a ocorrência da menopausa e a atividade sexual constante, sem relação com períodos de fertilidade. Diamond chama a atenção para a diferença entre estas características do comportamento humano e o de outras espécies animais. Lembra, é claro, que este comportamento, em vários de seus aspectos, é semelhante em alguns poucos animais, e também que, embora estes padrões representem a norma, todos conhecemos as freqüentes transgressões a ela. Embora exagerando na singularidade do comportamento sexual humano, Diamond lembra que o desenvolvimento de determinadas estratégias sexuais é o resultado de pressões ecológicas e restrições biológicas em qualquer espécie.
 

No capítulo seguinte, o autor examina o que chama de a guerra dos sexos, e usa como motivo, o tema em que, talvez, machos e fêmeas mais divergem: o cuidado à prole. Tomando a precaução de lembrar que o cuidado à prole, como qualquer outro comportamento, está sujeito às leis da seleção natural, Diamond discute a influência de três aspectos da reprodução sobre o conflito entre machos e fêmeas: o investimento no ovo ou embrião, a existência de novas oportunidades de reprodução e a confiança na paternidade/maternidade. Vários exemplos desse conflito em animais são discutidos e também exceções à norma mais freqüente que é a do cuidado pela fêmea. Finalmente examina a guerra dos sexos no ser humano, com ênfase na diferença no potencial reprodutivo dos dois sexos. Faltaria, aqui, uma discussão mais ampla dos mecanismos adaptativos desenvolvidos por homens e mulheres para lidar com essa questão, hoje em dia relativamente bem conhecidos, como os descritos por Baker e Bellis (1989, 1993a, 1993b) que poderia enriquecer bastante esta seção.

 

O capítulo seguinte é talvez o mais instigante, embora, provavelmente, o que apresenta a fundamentação menos consistente. Diamond lembra que a ausência de lactação em machos não é estrita - e já foi descrita sob estimulação hormonal em algumas espécies de mamíferos, o homem inclusive, e espontaneamente, em outras espécies. Porém, há um salto enorme, que as evidências disponíveis não suportam, para a conclusão de que nossa espécie é candidata a desenvolver, no futuro distante, a lactação masculina. Embora o autor elabore um caso em favor dos benefícios da lactação masculina humana, ele não explora os dados de, ao menos, um grupo animal por ele citado, os sagüis, que certamente são candidatos muito mais adequados ao desenvolvimento da lactação pelo macho, pois este se envolve no cuidado de forma intensa e tem seus níveis de prolactina (hormônio que na fêmea induz e sustenta a lactação) aumentados durante o cuidado e até mesmo antes do nascimento dos filhotes quanto é um pai experiente (Mota & Sousa, 2000; Ziegler & Snowdon, 1997). Nem por isso há qualquer evidência de que esses machos estejam a caminho de começar a ajudar suas parceiras a amamentar os filhotes. Parece-me, pois, que Diamond, com seu entusiasmo, leva a especulação além do que os dados lhe permitem.
 

Fonte: Scielo 
   Maria Emília Yamamoto
   Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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