O luto é um processo normal e que
precisa ser vivido para ser superado. Ao longo da minha carreira na clínica e
na área da saúde acompanhei inúmeras pessoas em processos de luto. Pessoas que
perderam seus pais, cônjuges, filhos, irmão, avós, amigos, bichinhos de
estimação, pacientes, etc. E posso afirmar que nenhuma perda é igual a outra,
mas sim uma experiência única e puramente individual. Depende da história
construída com que se perdeu, dos laços que as envolviam, dos papéis que
desempenhavam umas nas vidas das outras, da resiliência de quem sofre a perda e
de como tudo aconteceu.
Em minha caminhada vi muitas pessoas terem
dificuldades em enfrentar a dura realidade desse momento, como também
presenciei outras que, querendo ajudar, acabavam por suprimir no enlutado a
expressão emocional do seu luto, aspecto fundamental para a superação.
Assim, como medida preventiva elaborei algumas dicas para as pessoas que perderam um ente querido ou para aqueles que estão à sua volta. Penso que, em algum momento estaremos de um ou outro lado dessa história, então sempre é bom refletir sobre o que fazer nesses momentos de dor.
1- Respeite o momento do Choque.
Todos nós, quando sofremos uma perda temos um
momento de “choque” inicial. Essa reação acontece porque nosso Ego não é capaz
de absorver a realidade da notícia e, por defesa, há uma paralisia das emoções
e da capacidade de perceber o entorno. Em geral, essa reação pode durar
minutos, horas ou dias e a pessoa tem a tendência a manter a vida interior rica
de ilusões em relação ao ser que partiu. O choque pode desencadear um
verdadeiro “apagão” de consciência ou reações corporais como tremores,
desmaios, vômitos e diarreias. A pessoa também pode estar em choque quando
apresenta reações aparentemente frias e indiferentes ao que está acontecendo.
Respeite esse momento e se você estiver ao lado de alguém em choque acolha a
pessoa enlutada, que aos poucos irá conseguir ir compreendendo a realidade.
2- Cada um tem seu tempo para encarar a realidade
da perda.
É comum que pessoas enlutadas passem por uma fase
de negação, demonstrando uma resistência à perda para evitar o desequilíbrio
psíquico. Nestes casos, a expressão emocional pode ficar bloqueada, ou tenta-se
negar a perda procurando esquecer o ocorrido ou evitando pensar no assunto.
Também pode haver uma reação hiperativa, onde a pessoa age como se nada tivesse
acontecido e busca se entreter no máximo de atividades possíveis para evitar
entrar em contato com sua dor. Este tende a ser um período passageiro, mas
preocupante quando se estende demais, sem o espaço para as demais reações
naturais. O uso de substância psicoativas (calmantes, drogas e álcool) nesse
momento pode ser outra tentativa de fuga encontrada. Assim, é preciso ficar
atento a presença de tais reações, e buscar ajuda especializada quando sentir
necessidade.
3- O luto traz uma avalanche de emoções.
Os mais diversos sentimentos podem advir de um
luto! Tristeza, Raiva, Revolta, Alívio, Culpa, Medo, Impotência, Ansiedade…
enfim, as mais profundas emoções podem ser despertadas. O luto é um processo
doloroso e é preciso fazer um verdadeiro trabalho de superação. A
expressividade emocional é fundamental para que a pessoa possa digerir a
realidade da perda. Não evite o contato com seu sofrimento e procure as pessoas
realmente disponíveis emocionalmente para contar sobre o que está sentindo.
Seus sentimentos são legítimos e merecem ser respeitados e acolhidos.
4- É preciso chorar a sua dor.
Você não pode escolher não sofrer! O luto é uma
experiência altamente dolorosa e que realmente abala qualquer estrutura.
Bloquear, inibir ou adiar o seu luto não irá ajudar. Chorar, falar somente
sobre o luto, limitar a sua vida a esse acontecimento por um tempo é natural e
faz parte do processo de assimilação da realidade. Lembre-se que perder alguém
é algo maior que o Ego consegue abarcar de uma vez e, por isso, precisa ser
digerido lentamente.
5- Nunca estimule alguém a “sair” logo do seu luto.
Pedir ou estimular que uma pessoa enlutada se
recupere rápido ou não expresse suas emoções é totalmente desaconselhável. Esta
atitude, ao invés de ajudar, pode bloquear uma reação normal de luto e
desencadear outros problemas, como a hiperatividade ou até mesmo processos
depressivos e de adoecimento. Cada um tem seu tempo para superar o luto e tocar
a vida em frente. Procure ser sensível a esse momento e acolher o enlutado encorajando-o
a expressar seus sentimentos e a encontrar seus recursos emocionais para lidar
com a perda.
6- Nos sentimos impotentes diante da dor de alguém.
Realmente quando o outro sofre uma perda somos
relativamente impotentes frente ao que ele está sentindo. Não podemos apagar o
que aconteceu e nem evitar a avalanche de reações e sentimentos que eclodem a
partir do luto. Mas, estar ao lado da pessoa, manter-se presente, escutá-la e
acolhê-la emocionalmente (respeitando as dicas anteriores) é algo que você pode
fazer e que é de extrema importância neste momento.
Leia o texto completo em: CONTIoutra
Autora: Marcela Alice Bianco
Nenhum comentário:
Postar um comentário