"Transtorno de adaptação ou
transtorno de ajustamento é caracterizado por sintomas depressivos e ansiosos
resultantes do impacto psicológico de evento externo marcadamente estressante
ou catastrófico, e que altera drasticamente a vida da pessoa, de maneira
desagradável e duradoura, gerando sofrimento patológico e perturbação psíquica,
emocional e funcional".
Breves considerações sobre o transtorno
de adaptação ou de ajustamento:
A nossa vida é permeada por uma
constante dialética que nos permite experimentar os opostos. Somos convidados a
vivenciar os dois lados da moeda em nosso percurso existencial. Alegrias e
tristezas, vitórias e derrotas, ilusões e desencantos. Um estado não existiria
sem o seu respectivo oposto; e assim vamos nos equilibrando, nos construindo e
nos constituindo com nossas idiossincrasias, ou seja, o conjunto de
características que são peculiares a cada indivíduo como pessoa única.
Deste modo, a interpretação e resposta
comportamental a determinados eventos, é, também, necessariamente
personalizada.
Por outro lado, a vida é criativa e
sempre apresenta mudanças. Estas necessitam de um processo adaptativo.
Determinados acontecimentos tais como: Um divórcio que nos coloca em uma
situação de reconstrução interna e externa, um desemprego que nos tira de nossa
zona de conforto, a aposentadoria que chega, trazendo geralmente a sensação de
vazio e inutilidade; uma hospitalização prolongada, uma doença crônica, mudanças
bruscas e não elaboradas, dentre outras podem mexer com nossos recursos
emocionais, gerando estresse, acompanhados muitas vezes de desmotivação,
infelicidade e alterações disfuncionais de acordo com sua gravidade e
intensidade interpretativa pessoal. Entram neste contexto, principalmente as
crises existenciais que chegam sem aviso prévio, como a morte de um ente
querido, o fim de um relacionamento ou mesmo de idealizações há tanto tempo
construídas e alimentadas.
Tudo que finaliza, de maneira geral, e
que provoca sofrimento psíquico, necessita de uma postura adaptativa para o
enfrentamento da nova realidade que se apresenta, no intuito de trazer de volta
o equilíbrio, o bem-estar e a qualidade de vida perdida. Seria uma espécie de
homeostase emocional.
Podemos também mencionar ganhos que
podem gerar estresse, como mudança de estado civil, o nascimento de um filho,
ou mesmo uma promoção, pois apesar de positivas, também estas solicitam um
processo adaptativo por parte do indivíduo e podem ser também geradoras de
estresse. Com relação a traumas, seja em consequência de um estresse físico ou
psicossocial, novas adaptações devem ser feitas para que seja construída uma
nova realidade. Assim, nossa vida muda de maneira significativa quando acontece
algo traumático. Parece que nosso mundo se desmorona em mil pedaços, nos
fazendo sentir absortos e sem sabermos sequer por onde começar a organizar os
destroços, visto que estes eventos nos reportam a um estado de sofrimento
intenso e significativo, que podem levar a dissociações, onde serão mobilizados
recursos egóicos como meio de sobrevivência psíquica, onde sequer reunimos
forças para recomeçar. Precisamos de um aparato neste momento critico.
De acordo com a gravidade e/ou
intensidade do evento, podem surgir desequilibrios neuropsicobiológicos por
conta de uma resposta física e emocional mal- adaptada. Esta nos mobiliza a uma
readaptação e a um reposicionamento diante da vida, a partir de estratégias de
enfrentamento eficazes, ou seja, coerentes e adequadas àquela nova realidade e
suas consequências. Quando este intuito não é logrado, o organismo passa a
responder aos eventos estressógenos de maneira inadaptada, surgindo, portanto,
os sintomas característicos do transtorno de adaptação, com queixas emocionais
e somáticas. O sofrimento passa a se materializar no próprio corpo. Alguns
traços de personalidade e fatores característicos do indivíduo, contribuem para
a ocorrência e agravamento do quadro adaptativo, visto que existem pessoas que
são mais frágeis psicologicamente diante de eventos traumáticos e
estressógenos. Sendo assim, cada pessoa possui uma maneira particular de
perceber e administrar mudanças, sejam elas desagradáveis ou não.
Sendo assim, é necessário trabalhar a
perda e o sofrimento psíquico para que um transtorno de adaptação não evolua
para um quadro depressivo, ansioso ou misto. O trabalho preventivo é a
palavra-chave quando o assunto é mudança. E já que todos estamos sujeitos a
elas, sendo uma constante em nossas vidas, porque não trabalharmos as
possibilidades a nossa volta, sejam elas de perdas ou ganhos? Parece
redundante, mas concordo com o ditado: "melhor prevenir que
remediar".
Autora: Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga Clínica - CRP 11-06853
Fonte: Obvious
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