segunda-feira, 29 de junho de 2015

Depressão pós-parto no homem também afeta os filhos

Não são só as mães que estão sujeitas a sofrer de depressão pós-parto. De acordo com números divulgados pelo Australian Institute of Family Studies (AIF'S), em março de 2015, 1 a cada 10 homens também desenvolve a doença. E assim como acontece na versão materna, a depressão dos pais também traz consequências para as crianças. Foi o que revelou um estudo recente da Northwestern University, dos Estados Unidos. Quando o homem sofre com os sintomas, seus filhos também podem desenvolver comportamentos preocupantes, como agressividade, ansiedade, tristeza e até desencadear atitudes negativas, como o hábito de mentir. É a primeira vez que se comprova a influência da depressão paterna na formação dos pequenos. O resultado foi publicado no periódico Couple and Family Psychology: Research and Practice.
 
A pesquisa reuniu aproximadamente 200 casais com filhos de 3 anos de idade. As famílias participaram de uma análise na época do nascimento das crianças. Individualmente, pais e  mães preencheram um formulário com questões sobre a depressão parental, a relação com o parceiro e as características comportamentais dos filhos, como tristeza, ansiedade e nervosismo. Os pais também reportavam aos cientistas quando as crianças praticavam ações como mentir e bater. Sheehan Fisher, psicólogo e autor do estudo, atribui os sintomas que aparecem nos filhos à falta de contato visual e afetivo dos pais no período de depressão.

O que desencadeia a depressão pós-parto nos homens

Para detectar a doença, alguns detalhes devem ser observados no pai. A hereditariedade não é regra, mas se existirem casos anteriores na família, o homem pode ser mais vulnerável. O histórico do casal também conta. A criança veio em um momento oportuno ou foi inesperada? Quanto mais organizada for a chegada do filho, mais preparado emocionalmente estará o pai. Uma gravidez não planejada aumenta a possibilidade de surgirem conflitos que, quando mal resolvidos, podem desencadear um quadro mais sério.

As questões internas do homem devem ser levadas em conta: é preciso saber como foi a vivência dele com o próprio pai, como ele se vê tendo que cuidar do filho, o momento em que a carreira profissional dele se encontra e a relação com a mãe da criança. A possibilidade de ele ter sofrido alguma perda recente, como a do emprego, por exemplo, pode influenciar em seu emocional. Problemas financeiros nesse momento levam a um sentimento de impotência. O pai teme não conseguir oferecer ao filho tudo o que imaginava.

Não o deixe de fora

Quando há antecedentes de baixa autoestima e insegurança, o homem pode se sentir mal por ser colocado como coadjuvante durante a gravidez e após o parto, afinal, nesse momento, toda a atenção fica voltada para a mãe e para a criança. É necessário que a ideia de grupo seja ressaltada. O pai também deve cumprir seu papel e ajudar a mulher. Nesse caso, a aproximação com a gravidez é uma forma de prevenção.

E a futura mãe tem um papel importante para que o homem se sinta perto do bebê quando ele ainda está na barriga. Mostrar quando ele estiver mexendo, convidar para as consultas e exames e pedir ajuda na hora de escolher detalhes do enxoval são pequenas atitudes que fazem diferença. Depois, com a chegada do bebê, esse comportamento da mãe deve continuar. Ela deve permitir que ele cuide do filho, dê banho e execute outras tarefas, que não dependam só dela. Pode não ser da maneira como ela faria, mas é o jeito dele, e respeitar isso é fundamental.

Quanto mais instáveis estiverem todos esses aspectos, mais suscetível o pai estará a desenvolver uma depressão. No entanto, vale ressaltar:doenças emocionais e mentais não têm uma causa única. Elas são multifatoriais.

Os primeiros sintomas visíveis

Os homens costumam ter uma dificuldade maior de falar do seus sentimentos, em comparação com a mulher. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo, em 2014, 70% deles só buscam apoio profissional sob influência das mulheres ou dos filhos. Às vezes, a família e os amigos acabam diminuindo o problema e isso desestimula a pessoa a assumir que precisa de apoio profissional. Os mais próximos, portanto, podem ajudar a perceber os primeiros sintomas de depressão, que são:

- Irritação, ansiedade, nervosismo, mau humor ou tristeza persistentes
- Desinteresse em atividades que antes eram prazerosas
- Dificuldade para dormir ou excesso de sono
- Falta de apetite ou comer demais
- Perda de libido

Pressão não ajuda

Crenças comuns, como a de que o pai deve ser um super-herói e que, portanto, não pode fraquejar, reforçam a pressão e também podem piorar o quadro. Para não descumprir o papel que as pessoas esperam que execute, o homem tenta negar os sintomas, quando, na verdade, ele também está vulnerável por conta das mudanças emocionais. Ainda que tente esconder, em algum momento, a doença aparece e os reflexos negativos acontecem na vida conjugal, na relação com a família ou no trabalho.

Assim como a causa, o tratamento de depressão pós-parto nos pais também varia, de acordo com a gravidade do problema. Há uma avaliação psicológica e, dependendo do resultado, o profissional pode recomendar terapias de apoio, atividades físicas e inclusão de suplementos vitamínicos na dieta. Dependendo do cenário, o psiquiatra prescreve tratamento químico com medicamentos.


Fontes: Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP), Dr. Affonso Celso Vieira Marques, ginecologista da Beneficência Portuguesa (SP) e Bianca Balassiano Najm, psicóloga e especislista em amamentação e pós-parto.

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