segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Jovens com TOC Contam Como Lidam Com o Vício em Manias

Inquieta, Andressa Freitas de Souza, 23, bota-se de pé. "Sabe o que é? Se eu não lavar as mãos, não vou conseguir conversar com você." A garota vê sujeira onde, aparentemente, não há. "Se eu tocar no chão, no rejunte dos pisos, por exemplo, acho que vou me contaminar".

A aflição só passa quando ela abre a torneira da cozinha: "Senão a mente trava", explica, esfregando as mãos com detergente. Andressa tem TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), um distúrbio mental que afeta cerca de 4 milhões de jovens e adultos no Brasil. "A obsessão é aquele pensamento, mesmo sem sentido, que a pessoa não consegue tirar da cabeça. E a compulsão é o ritual feito para afastá-lo", explica Ana Hounie, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.

De acordo com a especialista, qualquer um pode desenvolver o TOC. E, muitas vezes, os primeiros sinais despontam na adolescência.

CHEIOS DE MANIAS

Prisioneira de inúmeras manias, que se acumularam e se substituíram, Andressa começou a ir mal na faculdade de enfermagem e largou tudo no segundo semestre.

"Quando ia estudar, era o caderno deste jeito, a caneta assim, o estojo ali... Insuportável." Como se não bastasse a fissura pela higiene, ela também se apega à simetria. No ano seguinte, aos 19, a mãe chegou em casa afobada, sacudindo uma revista: "Olha, Andressa, você tem a mesma coisa que o Roberto Carlos!".

"Todos os dias, antes de dormir, Andressa faz o mesmo ritual com o par de chinelos. Primeiro, checa se as solas estão limpas. Depois, posiciona o par sobre a risca formada entre os pisos e começa a contagem: "um, dois, um, dois, um dois", tocando o chinelo com os dedos. Se, durante o ritual, ela ouve um barulho, é preciso recomeçar."

A revista, que já era antiga, contava que o cantor não saía de um lugar pela porta que entrou, não usava marrom e não dizia palavras negativas: parou até de cantar um de seus sucessos, "Quero Que Vá Tudo pro Inferno".

Preocupada, Andressa começou a pesquisar sobre o TOC e encontrou outro caso famoso, o da modelo e atriz Luciana Vendramini. Ela ficou entre 1999 e 2003 sem trabalhar, tempo que levou para vencer a doença. No início, ela só conseguia dormir depois de ver três táxis amarelos. No auge, ficou dez horas no chuveiro, esperando um pensamento bom vir à mente. De imediato, Andressa procurou um psiquiatra e começou a se tratar com remédios. "Quando ele me disse que o TOC não tinha cura, eu comecei a chorar", lembra.

Há um ano, Diogo *, 12, também encara o tratamento recomendado --medicamentos (como antidepressivos) e terapia. Ele é da turma da limpeza, mas nada o atrapalha na escola, já que a região "contaminada" está em casa. Discreto, diz que não quer "parecer estranho".

* Nomes fictícios

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sei bem o que é isso.
Sou uma adolescente de 14 anos e fui diagnosticada com TOC. Eu tenho medo de tomar os remédios, tenho medo dos efeitos colaterais que dizem ser inevitáveis e da dependência.
O TOC pode parecer ser uma doença boba para quem vê, mas é bem difícil conviver com ela todos os dias.