A psicologia clínica engloba o estudo e tratamento de problemas de saúde mental: depressão, ansiedade, fobias, comportamentos de dependência (alcool, drogas), obsessivos e compulsivos, perturbações do comportamento alimentar, de personalidade, de comportamento infantil e etc.
Michel Foucault (1957) considera que as diferentes formas de fazer e pensar psicologia reúnem-se em torno de um projeto comum. Em “A psicologia de 1850 a 1950” (1957), Foucault analisa diferentes modelos existentes na psicologia deste período. Destaca que, ao contrário do que poderia ser suposto, as contradições entre seus objetivos e postulados, em vez de gerarem sua fragmentação, impulsionaram a construção de um projeto científico que diferenciou a psicologia de outras áreas da ciência. De sua ótica, o confronto de diferentes idéias e pressupostos criou, pouco a pouco, o caminho para que a psicologia descobrisse seu próprio estilo, a especificidade de seu objeto de estudo e, portanto, o seu projeto como ciência independente. Foucault define o projeto que une os diferentes modelos psicológicos como a construção de conhecimentos sobre um homem concreto, sobre seus conflitos, sofrimentos e patologias. Este projeto define-se, ainda, como a tentativa de, através de diferentes práticas psicológicas, “reapreender o homem como existência no mundo e caracterizar cada homem pelo estilo próprio a essa existência” (Foucault, 1957 p. 138).
Com suas raízes históricas no projeto científico da psicologia, a área da clínica também se constituiu a partir da necessidade de conhecer a nova organização subjetiva que emergiu das profundas transformações ocorridas no século XIX e no início do século XX. Como uma área específica da psicologia, concentrou-se na investigação das patologias, dos sofrimentos e dos conflitos humanos e na criação de práticas psicoterápicas que auxiliassem os seres humanos a melhor lidar com suas dificuldades. Em torno deste projeto comum, diferentes abordagens clínicas se consolidaram. Contudo, a despeito das diferenças e especificidades que apresentam, todas elas demarcam os contornos de um domínio particular de investigação: o território do conflito subjetivo. Demarcam, ainda, um domínio específico de intervenção: o das práticas psicoterápicas.
É importante refletir sobre a impossibilidade de se pensar um psicólogo clínico que não seja social, pois toda e qualquer ação deste profissional, mesmo que seja executada sobre um único sujeito, será uma intervenção social. Isto porque este sujeito é constituído histórico-socialmente, ele existe em suas relações e por suas relações. Todas as máscaras que ele utiliza para representar a si mesmo são inventadas dentro de uma processualidade do vir a ser como possibilidades para sua atuação. (Silva, 2001).
É verdade que a clínica implica numa intervenção, mas é um equívoco pensá-la como mera aplicação de conhecimentos básicos; é verdade que o sentido da intervenção clínica se diferencia em alguns aspectos dos sentidos da intervenção educacional e organizacional, mas é um equívoco tratar a clínica como uma mera área de atuação, ou defini-la pela sua intenção curativa; é verdade que há um tipo de conhecimento que é produzido na clínica e só nela, mas é um equívoco tratar a clínica como mera área de conhecimento separada de outras áreas a partir de seus temas; há sem dúvida um método clínico de pesquisa – mas seria equivocado reduzir a clínica a um método de pesquisa. (Figueiredo, 1995: 37 e 38).
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