sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A NOBREZA DE SER PSICÓLOGO

Vejo a profissão que escolhi como uma das mais belas, nobres, honradas.  Lançar-se a compreender, entender e auxiliar o outro em um processo de ressignificação e cura interior (e exterior, às vezes), deixando de lado nossos próprios sofrimentos é um ato muito bonito, não pode ser feito por quem não é altruísta. 

O atendimento em qualquer área da Psicologia demanda muita energia psíquica para nos mantermos focados no sujeito em sua completude que passa pelo nosso trabalho, mas principalmente no âmbito clínico a atuação do Psicólogo precisa ser integral, completa, absolutamente centrada no paciente e suas vicissitudes, pois talvez aquele seja o único momento que este disponibilize para si mesmo. Aqui se exige muita excelência. 

No período de faculdade, onde estamos nos construindo enquanto profissionais, aprendemos muitas teorias e, ao final desta, nos posicionamos em optar por uma para pautar nosso trabalho. Todavia na prática isso não se faz possível ortodoxamente, serve apenas para nortear nossa visão de homem, pois cada paciente é uma teoria nova, nunca será possível encaixá-lo em algo pré-existente. O psicólogo então é um teórico, que deve criar uma teoria nova para cada sujeito singular e único que adentra seu consultório. É o mínimo a se esperar de um Psicólogo comprometido com sua profissão.

Simbolicamente falando, vejo o trabalho do Psicólogo como de um lixeiro: o paciente nos joga “os lixos” dele e cabe a nós o auxiliar em reciclar o que for possível e se livrar do que não é mais útil e cabível. Ao mesmo tempo em que fazemos isso, devemos deixar nossos próprios “lixos” separadinhos, tomando o cuidado para nunca, em hipótese alguma deixar que se misturem aos do paciente. Isso é ética.

O papel do psicólogo é compreender a subjetividade do sujeito e isto envolve mais do que simplesmente a sintomática apresentada. Nem sempre o que o paciente deseja é o que ele quer, nem sempre sua queixa é a verdadeira demanda, nem sempre o que ele expressa verbalmente é sua real necessidade. E este é o ponto mais interessante. Anular-nos de nós mesmos para ouvir com sabedoria, ter “os ouvidos domesticados” como disse Lacan, e falar o que o paciente realmente precisa ouvir, não o que ele gostaria de ouvir ou o que gostaríamos de falar. É dever do Psicólogo saber a arte do bem falar, que só se dá pelo bem ouvir. Isto é ser humano com o sofrimento alheio.

O quesito principal exigido para quem é Psicólogo é não ser preconceituoso. Não fazer julgamento é um item presente no código de ética, não estamos lá para mensurar o que é certo ou errado. Não fazer inferência pessoal sobre a realidade do paciente, não fazer juízo de valor, não menosprezar o que para ele é importante, mesmo que tudo em que ele acreditar fira nossos princípios, estamos lá como um sujeito amoral a disposição de outro que tem suas crenças arraigadas e só terá progresso a psicoterapia se não nos posicionarmos como sujeito suposto saber. Habituar-se a separar as nossas verdades das verdades do outro é fundamental. Uma não precisa existir em detrimento a outra, podem coexistir. Isto é respeito pelo semelhante, deveria ser seguido por todas as pessoas.

Um bom psicólogo tem que ter um autoconhecimento excessivo, sem isso dificilmente desempenhará um trabalho eficiente. As pessoas só podem dar o que elas possuem, logo, somente uma pessoa muito bem resolvida com suas peripécias da vida será útil na vida do outro. Quem não dá conta dos próprios conteúdos não tem estrutura para lidar com os conteúdos alheios, isto é fato! Sempre digo que a psicologia não é para os frágeis emocionalmente.

Estar à mercê da necessidade do outro não é algo fácil. Desgasta, consome, tira o sono muitas vezes, causa desconforto, preocupação quando o caso do paciente é muito grave. Porém é muito gratificante. Não tem preço quando percebemos o progresso acontecendo na vida da pessoa e que todo o trabalho que desempenhamos foi válido. Quando o paciente se vai, conclui o processo terapêutico, não há como negar que deixa um vazio, mas que é preenchido pelo prazer imenso de perceber que ele não precisa mais de nós para estar bem e este era o objetivo a ser alcançado. Psicólogos foram feitos para serem abandonados e esta é a glória.

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