Desde
muito pequenos somos treinados a acumular, a ter, a possuir. Mas ao longo da
vida constatamos que isso nem sempre nos faz melhor.
Ao ler a
frase “Os vínculos que criamos com as pessoas e as coisas são importantes para
a vida, mas precisamos perceber quando eles não são mais necessários” levou-me
a refletir o quanto guardamos o que não serve mais; como mantemos preso o que
já não nos pertence, como se o desapego fosse nos deixar sem ar, sem sentido.
Os exemplos são vários. Lutamos em manter o amor não correspondido; perpetuamos
referenciais e paradigmas que já há tornaram obsoletos; guardamos ocupando
espaço no guarda-roupa o vestido que já tempos não usamos; cultivamos
lembranças que adoecem quando deveriam ter sido eliminadas da mente.
Acredito que não seja a única a pensar assim, ainda que seja
difícil admitir. Ao longo da história fomos treinados para competir, ganhar,
guardar, acumular, adquirir. Das coisas materiais às conquistas do coração tudo
deveria recair na proposta do ter, do possuir. Mas a vida sabiamente mostra que
as coisas não são bem assim já que a lei do universo busca pelo equilíbrio,
pela compensação. Como criança, se adeptos da infantilidade eterna, há quem
acredite dono vitalício daquilo que supõe ter conquistado ou adquirido,
esquecendo que apenas administramos a porção que nos foi reservada com tempo de
duração.
Muitas são
as pessoas que se afugentam de situações que possam desenvolver o sentimento de
apego, da dependência, refratários à entrega. Em contrapartida há os que buscam
viver intensamente o que desejam sem medo do que virá, ou quem sabe, mais
experimentados, sabem deixar de lado quando algo não serve, serenamente.
Metaforicamente, a prática do desapego se processa como uma grande faxina em
nossa casa. Baldes, vassouras, detergentes e rodos entram em ação recolhendo,
varrendo e limpando tudo que está sobrando pelos cantos, que não servem mais,
que impedem a passagem ou o bom uso. Assim fazem as crianças, deliberadamente,
quando o brinquedo não interessa mais.
Como não
existem cursos preparatórios para ser adulto, o melhor caminho é seguir a vida
observando o que ela nos dá de bom e o que podemos eliminar sem deixar que se
acumulem nas paredes do coração mágoas, ressentimentos, tristezas e
infelicidades. Lembrando Paulinho da Viola “Deixa a vida me levar, vida leva
eu”, quem sabe aprenderemos a nos abrir para experiências e aprendizagens sem
medos e reservas, encontrando ricas oportunidades de recomeço e apegos
desnecessários.
De
qualquer forma, como seres complexos, acredito que a escolha não é movimento
simples. Exige ousadia, coragem e decisão. Mas vale a pela tentar.
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