segunda-feira, 1 de julho de 2013

À PROVA DO DESAPEGO

Desde muito pequenos somos treinados a acumular, a ter, a possuir. Mas ao longo da vida constatamos que isso nem sempre nos faz melhor. 

Ao ler a frase “Os vínculos que criamos com as pessoas e as coisas são importantes para a vida, mas precisamos perceber quando eles não são mais necessários” levou-me a refletir o quanto guardamos o que não serve mais; como mantemos preso o que já não nos pertence, como se o desapego fosse nos deixar sem ar, sem sentido. Os exemplos são vários. Lutamos em manter o amor não correspondido; perpetuamos referenciais e paradigmas que já há tornaram obsoletos; guardamos ocupando espaço no guarda-roupa o vestido que já tempos não usamos; cultivamos lembranças que adoecem quando deveriam ter sido eliminadas da mente.
 
Acredito que não seja a única a pensar assim, ainda que seja difícil admitir. Ao longo da história fomos treinados para competir, ganhar, guardar, acumular, adquirir. Das coisas materiais às conquistas do coração tudo deveria recair na proposta do ter, do possuir. Mas a vida sabiamente mostra que as coisas não são bem assim já que a lei do universo busca pelo equilíbrio, pela compensação. Como criança, se adeptos da infantilidade eterna, há quem acredite dono vitalício daquilo que supõe ter conquistado ou adquirido, esquecendo que apenas administramos a porção que nos foi reservada com tempo de duração.

Muitas são as pessoas que se afugentam de situações que possam desenvolver o sentimento de apego, da dependência, refratários à entrega. Em contrapartida há os que buscam viver intensamente o que desejam sem medo do que virá, ou quem sabe, mais experimentados, sabem deixar de lado quando algo não serve, serenamente. Metaforicamente, a prática do desapego se processa como uma grande faxina em nossa casa. Baldes, vassouras, detergentes e rodos entram em ação recolhendo, varrendo e limpando tudo que está sobrando pelos cantos, que não servem mais, que impedem a passagem ou o bom uso. Assim fazem as crianças, deliberadamente, quando o brinquedo não interessa mais.

Como não existem cursos preparatórios para ser adulto, o melhor caminho é seguir a vida observando o que ela nos dá de bom e o que podemos eliminar sem deixar que se acumulem nas paredes do coração mágoas, ressentimentos, tristezas e infelicidades. Lembrando Paulinho da Viola “Deixa a vida me levar, vida leva eu”, quem sabe aprenderemos a nos abrir para experiências e aprendizagens sem medos e reservas, encontrando ricas oportunidades de recomeço e apegos desnecessários.

De qualquer forma, como seres complexos, acredito que a escolha não é movimento simples. Exige ousadia, coragem e decisão. Mas vale a pela tentar.

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