terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

SEXO ORAL: PRAZER, PODER E CULPA

Por Marcelo Marchiori

O orgasmo feminino é privilégio dos seres humanos e isso muda tudo. Claro que as fêmeas de outras espécies sentem prazer no intercurso sexual, mas nenhuma fêmea do mundo animal experimenta o mesmo delicioso prazer que as mulheres, pois o orgasmo não está apenas associado ao prazer físico, mas também é estimulado por fatores emocionais. A possibilidade de sentir prazer e, por isso, não conceituar o sexo com fins unicamente reprodutivos coloca a mulher num papel diferenciado das fêmeas de outros animais. A postura vertical obrigou a humanidade a reconsiderar as formas de acasalamento [anteriormente o coito era feito com a fêmea oferecendo os quadris para o macho, em um ato breve e com finalidade muito específica, a continuação da espécie]. O encontro face a face entre os parceiros estimula um contato diferenciado e influencia diretamente nas relações humanas. O sexo, como é feito por nós, humanos, tem caráter subversivo e desafia a ordem ‘natural’ das coisas.

Falar sobre a história da sexualidade humana, sem tocar diretamente em suas implicações político-psicológicas é disfarçar o tema. Na história da humanidade, e nem preciso discorrer muito sobre o assunto, é notório, a mulher sempre foi colocada em situação desfavorável. Tratada por inúmeras culturas e épocas como escrava coletiva ou individual. Nos melhores casos, era protegida, mas a visão ainda era de uma menor idade intelectual e, por isso, deveria ser tutelada pelo pai, marido ou outros possíveis cuidadores. A necessidade de reprimir a mulher e seu desejo está diretamente ligada ao desejo masculino de reprimir a natureza e suas projeções, no caso, o feminino. O homem que controla e modifica a própria natureza, que não pode estar sujeito à sorte de todas as coisas naturais, senhor de seu próprio destino e sexualidade, aquele que enfrenta e passa a dominar os deuses.

Se invertermos a lógica e assumirmos que o humano está sujeito aos desígnios divinos, pouca coisa muda, pelo menos no campo prático. Voltamos ao pensamento de que o sexo entre pessoas de mesmo poder é subversivo e perigoso para os desejos dos deuses. Por que deveríamos merecer uma atividade tão prazerosa, já que nós, humanos, só podemos viver em função da divindade? Sentir e acreditar em uma felicidade que esteja desconectada da religião não pode dar em boa coisa. O que fazer então? Resposta: mais uma vez, reprimir a natureza em sua projeção, a mulher… não devemos permitir os desejos da carne. Prestaremos conta de nossos atos agora ou depois da morte e isso assusta. O medo é um dos melhores amigos do ódio e da repressão.

Aja o que houver destina-se ao homem o direito de salvaguardar os interesses humanos, sejam eles em confluência com os interesses divinos ou não. Obviamente que tanto poder nas mãos de único gênero [que ainda tenho minhas dúvidas se não é o menos esperto de todos] não poderia dar certo. O homem heterossexual, ativo, sem quaisquer trejeitos femininos ou indícios de falha em sua masculinidade é talvez a pior caricatura que conseguimos criar de nós mesmos. Infelizmente, ainda prevalece até hoje.

Sou acusado de dar muitas voltas até chegar ao tema que realmente importa, mas acredite, eu ainda estou falando sobre o sexo oral.

Pois bem, o sexo oral é, para muitas mulheres, uma das formas mais fáceis de chegar ao orgasmo. A leitora que já se permitiu a prática do sexo oral, ou o leitor que não foi um idiota e não teve receios de proporcionar prazer à mulher com quem se relacionava, sabe muito bem disso. Claro que não existe uma receita de bolos, mas o contato com o clitóris [lembra-se da lenda do ponto G?] fica facilitado. Ainda assim, uma pesquisa sobre sexualidade feminina realizada em 1975, por Shere Hite, constatou que uma grande parte das mulheres tinha receio em receber o sexo oral e, a maior preocupação, estava relacionada ao cheiro e a higiene dos órgãos sexuais.

É óbvio que de 1975 pra cá um tanto de coisas mudaram, mas ainda é uma tendência a se pesquisar. O sexo oral se transforma [junto com a prática do sexo anal, mas esse fica pra outro artigo] uma das práticas sexuais com maior preconceito. Talvez ele não possa ser culpado de engordar, mas é constantemente acusado de imoral, ilegal ou anti-higiênico. Para muita gente, a proximidade dos órgãos sexuais com os órgãos de excreção condenaria a essas partes do corpo uma suposta sujeira. Balela… com a higienização correta, tais partes do corpo são tão limpas e cheirosas como o resto do corpo, além de que, em condições saudáveis, a vagina e o pênis contêm menos germes do que a boca. Quanto ao fato de ser uma atividade que não possui fim reprodutivo, gostaria que o/a leitor[a] fizesse uma listagem mental de todas as outras atividades sexuais que não têm como finalidade a procriação [começando pelo beijo].

Texto completo em: Psicoquê?

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