A fofoca eletrônica incorporou-se no nosso cotidiano sorrateira e sutilmente. Aliás, como tudo.
Voltemos ao “século passado”: cidade pequena, sem TV, sem o afã da mulher no trabalho/fora de casa, sem grades nas varandas e sem edifícios gradeados, calçadas sem carros, poucas bicicletas, charretes, etc… Durante o dia ou à noite, havia sempre aquele intervalo do “nada pra fazer” e uma fugidinha à janela para ver o povo passar.
Pessoas caminhando pela calçada e aquela conversa sobre o “fulano” que acabou de chegar na cidade, ou o outro que rompeu o noivado, ou a outra que mudou de casa e num instante já se sabe um pouco mais daquela vizinhança. À noite, então, com as cadeiras na calçada, voltas pela praça e mais notícias fresquinhas. Tudo se sabe e tudo se quer saber… Coisas de cidade pequena!Só que essas cidades cresceram, surgiu a TV que retirou as pessoas das janelas, principalmente, à noite e a praça, cada vez mais, tornou-se vazia.
A curiosidade passou a ser também em torno daqueles que apareciam na TV. Fofocas de novela, num enredo contínuo e incansável de escola de samba, onde só não mudou a curiosidade do povo. Os personagens mudaram, o cenário, obviamente, mudou, Casas em edifícios, cidades pequenas em grandes metrópoles. Mas, o tema continua, a curiosidade no outro continua.
Tivemos a Casa dos Artistas, o Big Brother Brasil, onde bisbilhotamos não mais nosso vizinho, mas aquele que está dentro de outra casa. Troco idéias sobre eles, não mais com aquele que passa por mim na praça, mas no “chat”, onde posso conversar com aquele que nem conheço, sobre esses personagens intrigantes que invadem minha casa pela TV.Ali, eu mando meu comentário, pontuo, voto, reclamo, elogio, comento, me indigno e por aí vai… É, apenas, uma técnica moderna de tentar conviver ou tentar sair da solidão.
Abstraio-me de minha vida, de meus próprios problemas e passo a “viver” em outra casa, com os problemas dos outros, com as inquietações dos outros.O homem não mudou muito nessa transição de século.
Tem dificuldade em ver-se, em olhar para a própria vida, seus próprios defeitos, dificuldades, escutar quem está dentro da própria casa, o filho, o marido, a mãe. Olhar para si, muitas vezes é frustrar-se com o que se vê; admitir que precisa mudar. Mas, isso é muito difícil, muito penoso. Dessa forma, olho para o outro, julgo o outro, avalio o outro, critico e com isso me escondo.
Até quando?
Por Marilena Teixeira Neto
Por Marilena Teixeira Neto
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