O debate sobre o tema das drogas vem ocupando todos os espaços sociais, não permitindo a nenhum cidadão mostrar-se indiferente ou alheio. Da mesa do jantar às rodas de conversa no trabalho, das escolas aos becos, do zum-zum no transporte coletivo aos gabinetes políticos, da polícia à igreja, da imprensa às praças públicas e às casas legislativas, um mesmo tema: a droga. As conversas giram sempre em torno da receita para o “que não tem receita, nem nunca terá!” Não é mera poesia, é do humano não caber em receitas. Mas, neste caso, a receita para o que escapa à norma foi dada. A prescrição médica, psicológica, jurídica, social e política sentencia: fora de nós, fora da civilização, rumo aos confins do humano. Sem compaixão com a dor e, sobretudo, sem respeito à cidadania do outro, mas também à nossa, este veredicto arbitra sobre a questão de modo único, total e violento. O que ele revela sobre nossa sociedade?
“A relação entre o dependente e o psicólogo deve se dar na exata medida da necessidade que a pessoa quer ser enxergada. E isto não pode acontecer a partir de visões pré-concebidas do profissional”, afirma a psicóloga e representante do CFP no Conselho Nacional sobre Drogas (Conad), Mônica Gorgulho.
Segundo Gorgulho, os psicólogos devem propor estratégias em conjunto com o dependente para encontrar alternativas. Olhar mais o outro e propor a partir do entendimento de sua realidade são indicações para o trabalho. “É preciso preparo técnico-científico e uma auto-crítica a suas crenças pessoais”, sugere a psicóloga.
Pelo fato de os usuários ainda serem vistos e vinculados ao tráfico ou a comportamentos criminosos, o uso e a dependência são muitas vezes interpretados como escolhas pessoais. É o que afirma o atual coordenador do Polo de Pesquisa em Psicologia Social e Saúde Coletiva da Universidade de Juiz de Fora Telmo Ronzani. “Parar ou de não usar a substância também vira um problema do usuário, que é visto como fraco ou sem força de vontade”.
Para Ronzani, a postura preconceituosa da sociedade, que muitas vezes repercute nas políticas públicas e mesmo no contexto clínico ou do serviço, traz impacto direto na qualidade e no resultado das ações para a prevenção, reabilitação ou reinserção social. Para o professor, o fortalecimento de políticas públicas inclusivas para essa população deve se dar com o entendimento pela sociedade de que os dependentes são cidadãos que tem o direito ao cuidado.
O psicólogo e psicanalista argentino Antônio Lancetti também ressalta o cuidado como soberano na relação com o dependente. “Às vezes se aproximar é de uma complexidade enorme. Todo mundo tem medo deles”, diz Lancetti. Mas chegar perto e conversar com o dependente é o primeiro passo. O pedido de ajuda, segundo ele, vem – mesmo que inicialmente pela negativa do próprio auxílio – com a demanda de atendimentos à saúde.
Fonte: http://drogasecidadania.cfp.org.br/
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