quarta-feira, 25 de março de 2015

Psicólogo(a)!? Pra quê!?

 Quantas vezes não ouvimos essa pergunta ao sugerir o apoio psicológico àquela pessoa que está enfrentando uma grande dificuldade? Ou nós mesmos, diante do convite de algum amigo ou conhecido, para que possamos enfrentar mais apropriadamente alguns conflitos e questões do nosso dia a dia?

Pensando nisso, decidi elencar alguns dos argumentos que comumente escuto quando sugiro apoio psicológico (que não necessariamente significa psicoterapia) a alguém, ou até mesmo quando tomo conhecimento de pessoas que também ouvem de seus amigos e/ou familiares este tipo de resposta diante da sugestão para buscar esse tipo de ajuda.

1.       Psicólogo é coisa de maluco. Eu não estou maluco….
Particularmente, não simpatizo com o termo “maluco”. É um termo muito utilizado para designar pessoas que sofrem de alguma dificuldade mental, ou cujo jeito de ser e agir fogem aos padrões de “normalidade” impostos por uma sociedade. É um assunto que rende boas discussões… Mas a questão é: psicólogo é coisa pra maluco? Eu ouso responder que SIM… e que NÂO! Se consideramos o maluco como uma PESSOA – acima de tudo – e que independente de ser diagnosticado com uma dificuldade mental qualquer, deseja apoio para melhor orientar-se diante de suas questões e dificuldades, sim o psicólogo pode ajudá-lo neste desafio. É importante lembrar que dependendo da natureza do conflito, será necessário conjugar outros tipos de apoio: nutricional, psiquiátrico, jurídico, assistência social… Porém, se o maluco em questão é a expressão de um preconceito ou um esteriótipo para enquadrar pessoas que apresentam um comportamento diferente daquele julgado “normal”, então realmente, não atendemos malucos. Atendemos pessoas.

2.      Psicólogo!? Deus me livre! Sou uma pessoa muito bem resolvida…
Esta expressão, ao meu ver, também aparenta uma ponta de preconceito. Ser bem ou mal resolvido é uma questão pessoal. E não é o(a) psicólogo quem vai dar o parecer sobre isso. E eu pergunto: o que é ser bem resolvido? Seria ter uma posição firme e responsável diante das questões diárias? Seria assumir a responsabilidade pelas escolhas e lutar por elas, respeitando as diferenças? Seria aceitar-se como é, reconhecendo suas fragilidades e possibilidades? Ou é passar por cima do sentimento das pessoas, em nome de uma vontade ou em nome de uma dita “autenticidade” que não considera princípios básicos da educação? Ou seria, então, “jogar na cara” da sociedade o seu padrão de vida e crenças sem conceder ao outro o direito de discordar ou de optar por outras escolhas? Enfim, é preciso considerar que mesmo diante de uma boa fase da vida, muitas vezes somos surpreendidos por acontecimentos que transcendem a nossa vontade, como por exemplo a perda de um familiar ou de um amigo querido (e por perda, não entendemos somente a morte, mas os afastamentos temporários e/ou permanentes), ou uma proposta aparentemente irrecusável de trabalho ou de relacionamento que nos fazem balançar, sem considerar com calma os riscos que estão envolvidos…. Enfim, muitas são as situações que nos atravessam que não necessariamente significam que estamos de mal com a vida ou conosco mesmos, mas que despertam certas dúvidas e apreensões… e é nesta hora que o apoio psicológico pode sim ser útil e até mesmo… libertador!

3.      Não preciso de alguém dizendo o que tenho que fazer…
Não se preocupe. O papel do psicólogo não é dizer o que as pessoas devem ou não devem fazer. Até mesmo porque o psicólogo não vai estar o tempo todo ao seu lado, muito menos vivendo a sua vida. Nosso papel é criar condições para que você possa refletir e encontrar o melhor caminho, a melhor solução dentro das questões que só você sabe o quanto significam… E isto não quer dizer que não sentiremos o peso da dúvida, da angústia… e que não nos comoveremos até… Porém, estar junto, estar no apoio não quer dizer, necessariamente, resolver o problema… muito menos ser indiferente diante da dor de alguém…

4.      Não tenho paciência para terapia
No início deste texto, disse que nem sempre o apoio psicológico significa psicoterapia. Existem psicólogos voltados para atendimentos breves, onde em algumas sessões procura-se dar conta de questões focais. No nosso caso, o plantão psicológico tem sido uma potente alternativa, que tem auxiliado diversas pessoas na solução de conflitos pontuais, cujos desdobramentos em suas vidas atingem proporções que nem podemos imaginar. E isso num bom sentido! Para saber mais sobre o Plantão Psicológico, clique aqui ou aqui!

5.      Mas, para que serve a psicoterapia?
A psicoterapia tem seu valor e é importante saber suas características, para que seu pedido de ajuda seja de fato atendido. Em termos científicos, podemos considerar que o objetivo principal da psicoterapia é a mudança da estrutura da personalidade. E o que isto envolve? Autoconhecimento! E autoconhecimento não é dizer: sou Ana Paula, filha do Sr. Paulo e da D. Amália, moro no Rio de Janeiro, gosto de cinema, de estudar (sim, eu gosto de estudar…), não como peixe e amo viajar. Óbvio que isto faz parte da construção de uma identidade, mas conhecer-se vai muito mais além. É um tipo profundo de reflexão que envolve reconhecer – e assumir – medos, tendências, desejos, limitações… e também valorizar conquistas pessoais, qualidades, virtudes. A partir deste reconhecimento é que será possível elaborar estratégias para enfrentar e modificar hábitos e superar viciações de comportamento, se esta for sua intenção. E isto não se faz em qualquer ambiente, com qualquer pessoa. Um ambiente seguro, que permita a livre expressão de si mesmo, com alguém capacitado a compreender, sem julgar e sem determinar padrões de certo e errado – mas alertando para as contradições, estimulando a tomada de consciência e a busca de alternativas diante das questões da vida: é isto que a psicoterapia pode oferecer, dentre outra coisas. É preciso coragem, reconheço, pois nem sempre é fácil estar frente a frente com aquilo que somos de verdade. Porém, ao transpor a barreira do medo, da autocondenação, entendendo e ao mesmo tempo soltando as algemas que nós mesmos colocamos nos nossos pulsos, a recompensa é de fato, gratificante e libertadora!

Espero que estas reflexões tenham sido úteis, e que de alguma forma, possam servir de pontapé para a busca – sem medo de ser feliz- daquele apoio que estava faltando na vida.

Um comentário:

Thierrie Magno disse...

Olá. Adoro suas postagens. São sempre esclarecedoras, objetivas e muito relevantes. Abraços.

Ps.: Sempre as compartilho, pois acho imperioso dividir com os outros as coisas boas!