Pais de adolescentes sabem muito
bem: não é nada fácil lidar com crises e desafios escolares e sociais que com
frequência aparecem na passagem da infância para a idade adulta. Surgem muitas
dúvidas quando se trata de escolher o melhor modo de lidar com os impasses, até
porque, não raro, as questões dos jovens remetem os adultos às angústias já
vividas por eles nessa etapa (nem sempre elaboradas). No entanto, ser um bom
pai tem muito a ver com aceitar os filhos – embora seja mais fácil dizer isso
do que agir, principalmente quando aparecem com uma tatuagem ou quando os pais
recebem uma ligação da escola convocando uma reunião para falar do mau
comportamento.
O
psicólogo Ronald P. Rohner, pesquisador da Universidade de Connecticut, estuda
as consequências da rejeição de crianças
e adolescentes pelos pais e a influência que o olhar parental tem sobre
aspectos importantes da personalidade. Jovens que se sentem acolhidos em casa
costumam ser mais independentes e emocionalmente estáveis, têm maior autoestima
e mantêm uma visão positiva do mundo. Aqueles que se sentem rejeitados não raro
demonstram o oposto: hostilidade, sentimentos de inadequação, instabilidade e
uma visão negativa das mais variadas situações.
Em
seu trabalho Rohner analisou dados de 36 estudos sobre aceitação e rejeição dos
pais. “Não parece haver dúvidas de que o investimento emocional tanto materno
quanto paterno está associado com essas
características de personalidade”, afirma o psicólogo. E, segundo ele, o afeto
do pai é tão importante quanto o da mãe. “Culturalmente, a grande ênfase na
figura da mãe levou a uma tendência inadequada de responsabilizá-la pelos
problemas de comportamento das crianças quando, de fato, o homem está
muito mais implicado nessas situações do
que as pessoas em geral imaginam.”
O
pai parece ter também um papel surpreendentemente importante no fortalecimento
da empatia dos filhos. O psicólogo Richard Koestner, da Universidade McGill,
analisou um estudo com 75 homens e mulheres acompanhados por pesquisadores da
Universidade Yale em 1950, quando os voluntários eram crianças. Koestner e seus
colegas examinaram diversos fatores que poderiam afetar a capacidade empática
na fase adulta, mas um em especial lhe chamou a atenção: o tempo que o pai passava com os filhos. “Ficamos
espantados ao descobrir que o carinho recebido pela dupla pai-mãe em si não fez
diferença significativa em relação à empatia. E nos surpreendemos mais ainda ao
constatar quanto era forte a influência especificamente paterna”, diz Koestner.
A
psicóloga Melanie Chifre Mallers, da Universidade Estadual da Califórnia em
Fullerton, também descobriu que filhos com boas lembranças do pai eram mais
capazes de lidar com as
tensões cotidianas da vida adulta. Na mesma época, uma equipe de pesquisadores
da Universidade de Toronto submeteu um grupo de adultos a um scanner de
ressonância magnética funcional para avaliar as reações quando observavam o
rosto dos pais. Imagens da mãe provocaram, de imediato, maior atividade em
várias regiões cerebrais, algumas associadas ao processamento de
características da face. Já o rosto do pai acionou, em primeiro lugar,
circuitos no núcleo caudado, uma estrutura relacionada a sentimentos de amor.
As
evidências mostram que o homem contribui de forma única com os filhos. Mas o
contrário não é necessariamente verdadeiro: crianças que não convivem com ele
na mesma casa não estão de forma alguma condenadas ao fracasso. Embora o pai
seja importante, esse papel pode ser substituído. Obviamente, conhecemos
crianças que cresceram em circunstâncias difíceis, mas que hoje desfrutam de
uma vida rica e gratificante. Nem todos se tornam o presidente dos Estados
Unidos, mas Barack Obama é um exemplo do que pode ser alcançado por uma criança
que passou a infância sem pai, mas conseguiu superar a situação. A paternidade
tem a ver com orientar as
crianças para que possam ser adultos felizes e saudáveis, à vontade no mundo,
preparados para viver relações de afeto, respeito e cuidado e, eventualmente,
ser pais ou mães.
Fonte: Mente & Cérebro
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