Particularmente, gosto de quem tem compromisso
com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no
que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos
outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando
“realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é
calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum
proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como
é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos
colaterais de se estar vivo.
Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os
que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por
terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por
não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então que
sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar
à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente?
É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir
tanto?
A vida não é um questionário de Proust. Você
não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor
preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer.
Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que
muda de opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso.
-- Martha Medeiros
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