Não existe dia
ruim. Sempre há chance do dia ser feliz. Mesmo que seja tarde. Mesmo que seja
de madrugada. Uma gentileza salva o dia. Um bife milanesa salva o dia. Uma gola
branca e engomada salva o dia. Uma emoção involuntária salva o dia.
Confio no
improviso, na casualidade, no movimento das cortinas na janela. Até o último
minuto antes da meia-noite, você pode resgatar o contentamento. É uma
gargalhada do filho diante da papinha, transformando a cadeira num imenso
prato. É algum amigo telefonando para confessar saudade. É sua mulher
procurando beijar a orelha mandando sinais de seu desejo. É o barulho da chuva
na calha, é o estardalhaço do sol na varanda. É encontrar - iniciando na tevê -
um filme que adora e já assistiu cinco vezes. É oferecer colo ao seu gato. É
planejar uma viagem de férias. É terminar um livro que abandonou pela metade. É
ouvir sua coleção de LPs da adolescência. É comprar uma calça jeans em
promoção. É adormecer no sofá e receber a coberta silenciosa de sua companhia.
É a possibilidade feminina de passar um batom e pintar as unhas. É
possibilidade masculina de devolver a bola quando ela sobe a cerca num jogo de
crianças. A felicidade é pobre. A felicidade precisa de apenas um abraço bem
feito.
Sigo esperançoso. Não coleciono tragédias. Sofro e apago. Sofro e mudo de assunto, abro espaço para palavras novas, para lembranças novas.
Vejo o esforço da abelha tentando sair do vidro, e não sou melhor do que ela. Vejo o esforço da formiga carregando uma casca de laranja, e não sou melhor do que ela. Viver é esforço e nos traz a paz de sonhar – querer não fazer nada é que cansa.
Não existe dia que
não ganhe conserto. Não existe dia morto, dia de todo inútil. Não desista da
alegria somente porque ela se atrasou. Pode ter recebido esporro do chefe,
ainda assim a hora está aberta. Comer um picolé de limão é capaz de restituir
sua infância.
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