De tudo que existe no mundo, o corpo é o nosso único bem que de fato
possuímos. Para alguns, o corpo é um templo sagrado, que merece todos os
cuidados, desde os estéticos, até os físicos e emocionais. Entretanto, para
parte da população, principalmente adolescentes e jovens adultos, o corpo
também serve como uma forma de expressar problemas emocionais, por meio da
automutilação ou cutting.
A automutilação é um comportamento intencional de agressão ao próprio
corpo, porém sem intenção de suicídio. Além disso, tem padrão de repetição e as
lesões são superficiais, na maior parte dos casos. Em geral, cortar a pele,
queimar-se, bater-se, morder-se ou arranhar-se são as formas mais comuns de
automutilação. Quem pratica a automutilação prefere escolher áreas do corpo de
mais fácil acesso, como braços, pernas e peito.
Normalmente, a automutilação tem início na adolescência, entre os 13 e
14 anos e persiste de 10 a 15 anos. Vale lembrar que a continuidade do
problema, em geral, está relacionada à presença de outros transtornos
psiquiátricos. Segundo alguns estudos, a automutilação é mais prevalente em
adolescentes e parece estar aumentando nos últimos anos.
Em um estudo norte-americano de 2011, constatou-se que 6% da população
geral praticou pelo menos uma vez um ato de automutilação e 1% praticou por 10
anos ou mais. Outro estudo, que considerou apenas adolescentes em idade
escolar, mostrou que 45% deles já havia praticado um ato de automutilação.
Na maioria dos casos, a automutilação é um dos critérios de diagnóstico para
o transtorno da personalidade borderline ou ainda pode estar ligada a outros
transtornos mentais. Somente um médico psiquiatra pode avaliar o paciente e dar
o diagnóstico adequado e, quanto mais cedo isso for feito, melhor será o
prognóstico.
As causas que levam uma pessoa a ferir-se intencionalmente são
multifatoriais e estão ligadas a fatores de risco, que envolvem:
características pessoais – insegurança, baixa autoestima e impulsividade, etc.
– transtornos psiquiátricos (borderline, depressão, etc.), problemas na
infância (negligência, abusos e estresse), dificuldades sociais (bullying e
dificuldades no relacionamento), assim como o familiar, que envolve pais
ausentes, divórcio e violência doméstica, entre outros.
Antes de um episódio de automutilação, é comum que a pessoa passe por
momentos estressantes que acabam desencadeando sentimentos como raiva, medo,
ansiedade e perda do controle, assim como culpa e sensação de rejeição. A
automutilação está ligada à incapacidade de lidar com os próprios sentimentos
e, ao contrário do que se pensa, a pessoa não busca dor física e nem atenção,
ela apenas procura uma forma de aliviar sua tristeza e sua dor emocional.
A dica para os pais de adolescentes e jovens é prestar atenção ao
comportamento dos filhos. A adolescência é uma fase de transição muito
importante e cheia de conflitos emocionais, por isso o risco do problema
aparecer nessa fase é maior. Cabe aos pais darem apoio e oferecer ajuda, além
de encaminhar esse indivíduo para um psiquiatra e um psicólogo, que poderão
propor um tratamento adequado e eficaz.
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