Desde pequenos somos influenciados pelos contos de
fadas e nos acostumamos a ouvir a famosa frase “e foram felizes para sempre” no
encerramento de todas as histórias. Esse imaginário infantil da princesa
que conhece o príncipe e que tudo dá certo no final permeia a fantasia até hoje
de grande parte dos adultos. A decisão de se casar e de compartilhar uma vida
com outra pessoa é repleta de expectativas e de projetos em relação ao futuro.
Incluem ideais como o desejo de ter a felicidade plena, filhos, morar em uma
casa bonita, vivenciar diariamente trocas mútuas de carinho e afeto. Mas, será
que é sempre assim que acontece?
A vida de um casal nem sempre funciona tão
perfeitamente quanto se imagina. O convívio a dois é difícil, uma vez que são
duas pessoas diferentes, com histórias de vida distintas, manias e exigências
adquiridas ao longo dos anos. Compartilhar tudo isso às vezes se torna uma
missão bastante delicada e, em certos casos, conflituosa.
Tenho observado no consultório, em que atuo como
psicóloga individual e de casal, um aumento significativo de pessoas sofrendo
com sérios problemas no relacionamento que culminam quase sempre em separação
ou em divórcio.
Ao longo do tempo é natural que o casal entre em
uma rotina e que aquela paixão e euforia iniciais se tornem mais silenciosas.
Além disso, com o passar dos anos as pessoas tendem a se modificar, o que pode gerar
um descompasso entre os cônjuges, uma vez que as transformações de cada um
deles parecem não acontecer na mesma direção. Isso costuma assustar os casais e
gerar um afastamento. Passam a se olhar de forma diferente e consequentemente a
questionar os seus sentimentos e o relacionamento como um todo.
Quando um casal passa a se desentender com certa
frequência, muito pode ser feito para tentar renovar e reestimular o casamento.
Conversas francas, mudanças de hábitos e rotinas, como por exemplo voltar a fazer
programas do começo do namoro, são boas estratégias. Procurar uma ajuda
psicológica individual ou para o casal muitas vezes se torna necessário ao
longo desse processo, pois ajuda na reflexão e na compreensão do que se deseja
para o futuro. Perceber se ainda há um desejo de permanecer e reconstruir a
relação, ou se a separação é necessária para que cada um possa reescrever suas
histórias. A tomada de decisão se torna mais sólida e segura.
A tomada de decisão
Porém, há situações em que, mesmo após várias
tentativas, o casal não consegue mais se entender e nem sequer conviver. As
brigas e discussões são frequentes, há falta de interesse mútuo e o desgaste do
relacionamento é nítido.
Tomar a decisão de se divorciar requer coragem para
enfrentar os problemas de frente e assumir que aquela escolha feita
anteriormente não deu certo. É admitir para si, e para o mundo, que sim, nesse
sentido, os seus planos fracassaram. É se conhecer bem o suficiente para
perceber que o seu relacionamento não está mais satisfatório e se permitir
escrever outra história a partir dali. Toda mudança requer coragem e força
interior para acontecer.
O luto
Quando o casal decide se divorciar, não é somente a
relação que acaba, mas também todos os projetos criados para o futuro se
rompem. É preciso aprender a lidar com um turbilhão de sentimentos que surgem.
Variam entre frustração, perda, tristeza, medo, vergonha e insegurança.
Inicia-se, então, um processo de luto. A morte dos
ideais e expectativas construídos para a vida. Morte de um sonho, de uma
história que terminou, morte dos planos fantasiados, dos projetos futuros. O
divórcio, segundo estudos, é o segundo evento psicossocial que gera maior
sofrimento psíquico. Perde somente para a morte de um ente querido, ou seja, é
um momento muito difícil na vida de qualquer um, independentemente de ter sido
amigável ou litigioso.
A sensação de medo e de insegurança são muito
frequentes, pois o divorciado se vê em uma incerteza enorme perante a vida.
Readaptação do cotidiano, voltar a estar sozinho e ser independente, ter
autonomia, retomar um convívio social, lidar com as incertezas se conseguirá
reconstruir uma nova relação, medo de se arrepender da decisão tomada.
Às vezes vemos situações em que o medo de um futuro
incerto gera uma ansiedade tão forte no divorciado que este prefere se
reconciliar com o ex-companheiro. Porém, tal comportamento costuma ser muito
prejudicial para o casal, uma vez que esse retorno foi movido por uma
insegurança e não pelo desejo de reestabelecer a relação. Consequentemente,
após algum tempo os problemas conjugais retornarão gerando ainda mais desgaste
e sofrimento para ambas as partes.
E agora? A reestruturação
Certa vez ouvi de um paciente que o divórcio “é uma
montanha russa de sentimentos”. Por isso, é importante se respeitar e respeitar
o seu tempo. É se permitir vivenciar o luto, parar e refletir sobre o que deu
errado e como pretende seguir a vida para reconstruir a sua história. Evitar
ter pressa para iniciar outro relacionamento.
A vida é construída baseada em acertos e erros!
Quando acertamos nos sentimos plenos e seguros para seguir adiante. Quando
erramos temos que nos levantar, aprender com aquilo que deu errado e seguir em
frente. Na vida afetiva e nos relacionamentos não pode ser diferente! Temos que
tentar nos aprofundar cada vez mais em nós mesmos, para percebermos o que
queremos e para onde queremos guiar a nossa trajetória. A ajuda de um psicólogo
é muito importante no auxílio para que esse processo de superação e de mudança
possa ocorrer de forma mais plena e segura.
Não tenha medo de julgamentos e nem sinta vergonha
por tentar mudar! A vida é sua, então, que seja vivida da maneira que você
julgar ser melhor para traçar a sua história.
Seja feliz!
CONTI outra. Autora: Viviane Lajter Segal, Psicóloga
Clínica e Especialista em Terapia de Família e Casal pela PUC-RIO
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