Não são só as mães
que estão sujeitas a sofrer de depressão pós-parto. De acordo com números
divulgados pelo Australian Institute of Family Studies (AIF'S), em
março de 2015, 1 a cada 10 homens também desenvolve a doença. E assim como
acontece na versão materna, a depressão dos pais também traz consequências para
as crianças. Foi o que revelou um estudo recente da Northwestern
University, dos Estados Unidos. Quando o homem sofre com os sintomas, seus
filhos também podem desenvolver comportamentos preocupantes, como
agressividade, ansiedade, tristeza e até desencadear atitudes negativas, como o
hábito de mentir. É a primeira vez que se comprova a influência da
depressão paterna na formação dos pequenos. O resultado foi publicado no
periódico Couple and Family Psychology: Research and Practice.
A pesquisa reuniu
aproximadamente 200 casais com filhos de 3 anos de idade. As famílias
participaram de uma análise na época do nascimento das crianças.
Individualmente, pais e mães preencheram um formulário com questões sobre
a depressão parental, a relação com o parceiro e as características
comportamentais dos filhos, como tristeza, ansiedade e nervosismo. Os pais também reportavam aos
cientistas quando as crianças praticavam ações como mentir e bater. Sheehan
Fisher, psicólogo e autor do estudo, atribui os sintomas que aparecem nos
filhos à falta de contato visual e afetivo dos pais no período de depressão.
O que desencadeia a
depressão pós-parto nos homens
Para detectar a
doença, alguns detalhes devem ser observados no pai. A hereditariedade não é
regra, mas se existirem casos anteriores na família, o homem pode ser mais
vulnerável. O histórico do casal também conta. A criança veio em um momento
oportuno ou foi inesperada? Quanto mais organizada for a chegada do filho, mais
preparado emocionalmente estará o pai. Uma gravidez não planejada aumenta
a possibilidade de surgirem conflitos que, quando mal resolvidos, podem desencadear
um quadro mais sério.
As questões internas
do homem devem ser levadas em conta: é preciso saber como foi a vivência dele
com o próprio pai, como ele se vê tendo que cuidar do filho, o momento em que a
carreira profissional dele se encontra e a relação com a mãe da criança. A possibilidade
de ele ter sofrido alguma perda recente, como a do emprego, por exemplo, pode
influenciar em seu emocional. Problemas financeiros nesse momento levam a um
sentimento de impotência. O pai teme não conseguir oferecer ao filho tudo o que
imaginava.
Não o deixe de fora
Quando há
antecedentes de baixa autoestima e insegurança, o homem pode se sentir mal por
ser colocado como coadjuvante durante a gravidez e após o parto, afinal, nesse
momento, toda a atenção fica voltada para a mãe e para a criança. É necessário
que a ideia de grupo seja ressaltada. O pai também deve cumprir seu papel e
ajudar a mulher. Nesse caso, a aproximação com a gravidez é uma forma
de prevenção.
E a futura mãe tem
um papel importante para que o homem se sinta perto do bebê quando ele ainda
está na barriga. Mostrar quando ele estiver mexendo, convidar para as consultas
e exames e pedir ajuda na hora de escolher detalhes do enxoval são pequenas
atitudes que fazem diferença. Depois, com a chegada do bebê, esse comportamento
da mãe deve continuar. Ela deve permitir que ele cuide do filho, dê banho e
execute outras tarefas, que não dependam só dela. Pode não ser da maneira como
ela faria, mas é o jeito dele, e respeitar isso é fundamental.
Quanto mais
instáveis estiverem todos esses aspectos, mais suscetível o pai estará a
desenvolver uma depressão. No entanto, vale ressaltar:doenças emocionais e
mentais não têm uma causa única. Elas são multifatoriais.
Os primeiros sintomas visíveis
Os homens costumam ter uma dificuldade maior de
falar do seus sentimentos, em comparação com a mulher. De acordo com uma
pesquisa divulgada pelo Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo, em
2014, 70% deles só buscam apoio profissional sob influência das mulheres ou dos
filhos. Às vezes, a família e os amigos acabam diminuindo o problema e isso
desestimula a pessoa a assumir que precisa de apoio profissional. Os mais
próximos, portanto, podem ajudar a perceber os primeiros sintomas de
depressão, que são:
- Irritação, ansiedade, nervosismo, mau humor ou tristeza persistentes
- Desinteresse em atividades que antes eram prazerosas
- Dificuldade para dormir ou excesso de sono
- Falta de apetite ou comer demais
- Perda de libido
- Irritação, ansiedade, nervosismo, mau humor ou tristeza persistentes
- Desinteresse em atividades que antes eram prazerosas
- Dificuldade para dormir ou excesso de sono
- Falta de apetite ou comer demais
- Perda de libido
Pressão não ajuda
Crenças comuns, como
a de que o pai deve ser um super-herói e que, portanto, não pode fraquejar,
reforçam a pressão e também podem piorar o quadro. Para não descumprir o papel
que as pessoas esperam que execute, o homem tenta negar os sintomas, quando, na
verdade, ele também está vulnerável por conta das mudanças emocionais. Ainda
que tente esconder, em algum momento, a doença aparece e os reflexos negativos
acontecem na vida conjugal, na relação com a família ou no trabalho.
Assim como a causa, o
tratamento de depressão pós-parto nos pais também varia, de acordo com a
gravidade do problema. Há uma avaliação psicológica e, dependendo do
resultado, o profissional pode recomendar terapias de apoio, atividades físicas
e inclusão de suplementos vitamínicos na dieta. Dependendo do cenário, o
psiquiatra prescreve tratamento químico com medicamentos.
Fontes: Rita
Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo (SP), Dr. Affonso Celso Vieira
Marques, ginecologista da Beneficência Portuguesa (SP) e Bianca Balassiano
Najm, psicóloga e especislista em amamentação e pós-parto.
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