Medidas punitivas são práticas educacionais
milenares, bastante arraigadas na sociedade. A prova disso é a referência
encontrada em provérbios bíblicos e culturais por todo o mundo, que as associam
a amor, boa educação e até a salvação. Seja concebida como medida acessória ou
como prática essencial na educação dos filhos, verifica-se que em alguns
momentos existe um limite tênue entre a palmada, a surra e os maus tratos à
criança ou adolescente. É nesse contexto que o Estado propõe a proibição da
palmada e seus derivados, dividindo opiniões entre pais e educadores. O texto
de hoje vem acrescentar à discussão uma reflexão em torno dessa prática para
que, posteriormente, sejam propostas alternativas para a punição normativa.
O termo práticas educativas parentais denomina uma
série de comportamentos que os pais apresentam na criação de seus filhos. Tais
atitudes são transmitidas de geração em geração, não pela via genética, mas
pelo fato de o sujeito aprender tais comportamentos na convivência com seus
antepassados imediatos, e assim sucessivamente.
Passemos, então, ao seguinte raciocínio: se um
comportamento é aprendido e é perpetuado ao longo das gerações, significa dizer
então que este é selecionado historicamente. Suas consequências devem ser
fortes o suficiente para que uma pessoa se comporte dessa forma. No entanto,
isso não quer dizer que sejam somente comportamentos adequados os perpetuados:
o mesmo processo vale para os comportamentos ditos inadequados. Por exemplo,
quando uma pessoa privada de atenção (ou sem atenção suficiente) se lesiona
diante de pessoas ocupadas, isso provavelmente busca olhares e investimentos de
quem a rodeia. Apesar de provocar dor, é funcional porque foi aprendido na
história de vida e é mantido pelas consequências (obter atenção social).
Existem outros comportamentos alternativos com a mesma finalidade, mas a pessoa
aprendeu que dessa forma obtém o que deseja, e quanto maior essa associação,
maior a dificuldade de mudança.
Dito isso, fica o questionamento: quais são as
consequências da punição física quando ela é adotada no manejo de
comportamentos inadequados?
O primeiro efeito observado é o resultado imediato:
o comportamento inadequado (aquele que é contrário ao que é socialmente aceito
ou que traz risco a quem o executa ou a outras pessoas) é prontamente
suprimido. Por exemplo, quando um pai surra uma criança por esta bater em seu
irmão, é possível que a criança não tente fazê-lo novamente. É um efeito que
acaba fortalecendo o comportamento do agente punidor, pela sua própria
eficácia. No entanto, o comportamento inadequado pode reduzir a frequência
inicialmente, mas pode voltar a ocorrer. Vejamos.
Ao ter seu comportamento punido, a pessoa aprende
que não deve se comportar daquela maneira, pois assim teria punição, pelo menos
diante daquele que puniu. Aproveitando o exemplo supracitado, a criança pode
não brigar com o irmão na presença do pai (para evitar a punição), o que não
quer dizer que deixará de bater diante de outra pessoa ou mesmo sozinho com o
irmão. O que a população comumente defende ser a mais efetiva prática
educativa, na verdade ocasiona uma operação de esquiva das consequências
aversivas, tão somente, e não uma aprendizagem quanto ao modo certo de se
comportar. Ainda no exemplo, a criança não aprenderá a ter comportamento
amistoso, colaborativo, empático e amoroso com o irmão, pois isso não foi
desenvolvido com o tapa recebido.
Assim, outro efeito que pode ser observado na
punição corporal é que, por não aprender a se comportar de modo adequado, a
pessoa pode buscar outras maneiras de fazer exatamente o mesmo, sem ser
descoberta. É o caso de uma adolescente que está namorando precocemente. Ao
receber punições, ela pode tanto deixar de namorar, quanto também pode mudar o
horário das conversas ao telefone, mentir que rompeu o relacionamento, fugir de
casa para encontrar o amante, ou mesmo não ouvir nenhuma orientação dos pais
quanto a isso. Observe que, apesar da punição, ela continua tendo acesso a algo
prazeroso, que é o namoro. É como se fosse um “estágio” que, embora sofrido,
tende a passar e logo ela encontra algo reforçador que a fará “esquecer” da
dor.
Leia mais em: PSICOTERAPIA INFANTIL
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