A Psicologia Evolutiva vem ganhando espaço nas rodas de discussão dentro e fora da academia, especialmente no que diz respeito aos seus desdobramentos para o comportamento humano. Há, no entanto, uma escassez de bibliografia em português que trate este assunto de forma científica e ao mesmo tempo acessível. O livro "Por que o sexo é divertido?" de Jared Diamond vem preencher esta lacuna.
O autor aborda vários aspectos da
sexualidade humana, tais como a privacidade do sexo, a batalha dos sexos, a
lactação exclusivamente feminina, o sexo como diversão, os papéis masculinos, a
evolução da menopausa e dos sinais físicos. Ao abordar estes aspectos, Jared
Diamond explora como e porque a vida sexual da espécie humana difere, em vários
aspectos radicalmente, da de outros animais. Para explicar estas
características distintas o autor apela para razões evolutivas, recorrendo
freqüentemente a estudos realizados com animais e relatos antropológicos da
cultura e costumes de sociedades primitivas.
O autor inicia o livro com uma
descrição do que denomina de "comportamento sexual bizarro dos seres
humanos": a reunião de pares em um longo relacionamento, o cuidado dos
filhos pelos dois parceiros, a vida em território comum a outros casais e
membros avulsos dos dois sexos, o sexo privado, a ovulação oculta, a ocorrência
da menopausa e a atividade sexual constante, sem relação com períodos de
fertilidade. Diamond chama a atenção para a diferença entre estas
características do comportamento humano e o de outras espécies animais. Lembra,
é claro, que este comportamento, em vários de seus aspectos, é semelhante em
alguns poucos animais, e também que, embora estes padrões representem a norma,
todos conhecemos as freqüentes transgressões a ela. Embora exagerando na
singularidade do comportamento sexual humano, Diamond lembra que o
desenvolvimento de determinadas estratégias sexuais é o resultado de pressões
ecológicas e restrições biológicas em qualquer espécie.
No capítulo seguinte, o autor examina
o que chama de a guerra dos sexos, e usa como motivo, o tema em que, talvez,
machos e fêmeas mais divergem: o cuidado à prole. Tomando a precaução de
lembrar que o cuidado à prole, como qualquer outro comportamento, está sujeito
às leis da seleção natural, Diamond discute a influência de três aspectos da
reprodução sobre o conflito entre machos e fêmeas: o investimento no ovo ou
embrião, a existência de novas oportunidades de reprodução e a confiança na
paternidade/maternidade. Vários exemplos desse conflito em animais são
discutidos e também exceções à norma mais freqüente que é a do cuidado pela
fêmea. Finalmente examina a guerra dos sexos no ser humano, com ênfase na diferença
no potencial reprodutivo dos dois sexos. Faltaria, aqui, uma discussão mais
ampla dos mecanismos adaptativos desenvolvidos por homens e mulheres para lidar
com essa questão, hoje em dia relativamente bem conhecidos, como os descritos
por Baker e Bellis (1989, 1993a, 1993b) que poderia enriquecer bastante esta
seção.
O capítulo seguinte é talvez o mais
instigante, embora, provavelmente, o que apresenta a fundamentação menos
consistente. Diamond lembra que a ausência de lactação em machos não é estrita
- e já foi descrita sob estimulação hormonal em algumas espécies de mamíferos,
o homem inclusive, e espontaneamente, em outras espécies. Porém, há um salto
enorme, que as evidências disponíveis não suportam, para a conclusão de que
nossa espécie é candidata a desenvolver, no futuro distante, a lactação
masculina. Embora o autor elabore um caso em favor dos benefícios da lactação
masculina humana, ele não explora os dados de, ao menos, um grupo animal por
ele citado, os sagüis, que certamente são candidatos muito mais adequados ao
desenvolvimento da lactação pelo macho, pois este se envolve no cuidado de
forma intensa e tem seus níveis de prolactina (hormônio que na fêmea induz e
sustenta a lactação) aumentados durante o cuidado e até mesmo antes do nascimento
dos filhotes quanto é um pai experiente (Mota & Sousa, 2000; Ziegler &
Snowdon, 1997). Nem por isso há qualquer evidência de que esses machos estejam
a caminho de começar a ajudar suas parceiras a amamentar os filhotes.
Parece-me, pois, que Diamond, com seu entusiasmo, leva a especulação além do
que os dados lhe permitem.
Fonte: Scielo
Maria Emília Yamamoto
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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