Mário Quintana disse uma vez que “o pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”. No entanto, há alguém sensível a esse contexto: o psicólogo, profissional habilitado para realizar intervenções no âmbito comportamental, cognitivo e afetivo, visando a uma melhor adaptação das pessoas no ambiente em que elas vivem e melhoria da qualidade de vida. Uma de suas atividades se refere à psicoterapia, que é o tratamento realizado em consultório, com diversas abordagens terapêuticas. Mas uma pergunta paira no ar: a quem se destina a psicoterapia?
No que se refere ao tratamento clínico, a psicoterapia (comumente chamada de “terapia” e “análise”) apresenta várias formatações, dependendo do público atendido e da demanda. Ela pode ser individual (abrangendo as diversas faixas etárias), de casal, familiar ou grupal. Pode, ainda, acontecer na modalidade tradicional (no setting clínico) ou no ambiente natural do paciente, como o domicílio. Para que haja o tratamento, é necessária a demanda espontânea, ou seja, a pessoa precisa verificar a necessidade de ajuda profissional diante de algum problema que traz efeitos emocionais desagradáveis ou dificuldade de adaptação. Especialmente no caso das crianças e adolescentes, a demanda surge através da família, que constata a necessidade e os encaminha para o consultório.
Lidamos com vários problemas diariamente, alguns deles com sucesso, outros não. Podemos tentar inúmeras vezes, mas em outras podemos desistir sem ter havido uma tentativa. Alguns desses problemas podem ser súbitos (como uma mudança de trabalho, uma gravidez, doença crônica, a morte de alguém), mas também podem ocorrer situações em que tais dificuldades são antigas, repercutindo no presente da mesma forma que no passado, ou com algumas variações. Por exemplo, um adulto com transtorno do pânico pode ter sido uma criança que reagia com excesso de ansiedade em situações cotidianas.
Para que um comportamento seja considerado problemático é necessário que este repercuta negativamente em algum âmbito de sua vida ou para outros que o rodeiam. A socialização, o desempenho acadêmico, o humor, o relacionamento afetivo e sexual, a autoestima, a produtividade, o clima familiar e a qualidade de vida são alguns âmbitos que podem ser afetados por comportamentos desadaptativos. Cabe ressaltar que o comportamento, como se apresenta hoje, é fruto de um processo histórico de aprendizagem. Nesse sentido, pessoas significativas possuem contribuição direta e indireta (como familiares e professores), assim como determinados ambientes (cultura, religião, escola e família).
Muitas vezes ficamos surpresos quanto aos comportamentos infantis. É comum escutarmos pais se questionando como os filhos se comportam daquela forma específica se nunca eles os haviam ensinado a agir assim. Para ilustrar, vamos pensar em uma criança que apresenta reações emocionais fortes diante de uma chuva, desejando não apenas abrigo, mas somente a segurança de sua casa. Embora os pais tenham ensinado de onde vem a chuva, qual o objetivo dela e o quão bonita ela seja, se essa criança apresenta crises respiratórias agravadas pela mudança de clima, com histórico de pneumonias de repetição e frequentes hospitalizações (e todo o contexto que bem conhecemos: injeções, soros e alimentação de consistência diferente da cotidiana), um simples “estou doente porque peguei chuva” ou verbalizações sobre o evento (“vamos parar de brincar no quintal, lá vem chuva”) podem contribuir para associações entre chuva, ficar doente e necessidade de estar abrigado em casa para evitar desconfortos posteriores.
Texto completo em: Instituto de Psicologia Aplicada
Juliana de Brito Lima é Psicóloga (CRP 11ª/05027), formada pela Universidade Estadual do Piauí e especializanda em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento – IBAC.
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