Por Cleison Guimarães
Como ocorre o desenvolvimento infantil segundo Melanie Klein? Na psicanálise construída por Melanie Klein encontramos o conceito de posição, tal conceito remete a forma de como se constitui a subjetividade do bebê, e para Klein existem duas formas de constituição da subjetividade ou duas posições, que acontecem de forma processual. Tais posições podem ser denominadas de posição esquizo-paranóide e posição depressiva.
A posição esquizo-paranóide inicia no nascimento até os seis meses de idade. Na posição esquizo-paranóide o desenvolvimento do eu é determinado pelos processos de introjeção e projeção. A primeira relação objetal do bebê ocorre com o chamado seio amado e odiado – seio bom ou seio mau. Os impulsos destrutivos e a angústia persecutória encontram-se no seu apogeu, assim como os processos de divisão, onipotência, idealização, negação e controle dos objetos internos e externos.
Segundo Melanie Klein a defesa primordial é a clivagem, o seio é o objeto primordial e será dividido em seio bom e seio mau, ou num bom objeto que o bebê possui e num mau objeto que está ausente, como mãe nunca está sempre presente na vida bebê para amamentá-lo ela se torna ausente e o bebê com isso inaugura o processo de clivagem em sua subjetividade. Ele percebe o seio como “bom” porque o amamenta e como “mau” porque se ausenta.
Como se percebeu, o bebê nessa fase se relaciona com objetos parciais, o seio bom e mau, um objeto ideal e outro persecutório. Porém, o objeto mau é projetado para fora do bebê como sendo perseguidores e destruidores do objeto bom. Nessa fase vemos a existência de uma angústia persecutória, então a meta da criança nessa fase é de possuir o objeto bom e introjetá-lo e também de projetar o objeto mau para fora e assim evitar os impulsos destrutivos.
Num segundo momento, se desenvolve a posição depressiva, ela inicia aos seis meses de idade, nesse momento a relação do bebê com o mundo externo se torna mais diferenciada, aumentando sua capacidade de expressar emoções de se comunicar com as outras pessoas.
Nesse momento, o bebê reconhece a mãe como um único objeto, ou seja, o bebê começa a reconhecer a mãe como uma pessoa total com existência própria e independente, fonte de experiências boas e más. A criança compreende pouco a pouco que é ela quem ama e odeia a mesma pessoa, sua mãe, e assim inaugura a experiência do chamado sentimento de ambivalência.
Agora o bebê percebe que antes temia a destruição do seu objeto amado por perseguidores e agora ele teme que essa sua agressão possa destruir o objeto ambivalentemente amado e odiado. Sua angústia deixa de ser paranóide pra ser depressiva. E assim começa a se originar sentimentos de culpa e luto, como afirmar Melanie Klein.
Com isso se inicia um processo de reparação dessa relação objetal ambivalente. É com esse processo de reparação desse luto e culpa é que será a melhor saída da posição depressiva. Esse processo se dá com a aceitação da perda de parte do objeto, ocorrendo essa condição o bebê poderá restaurá o objeto amado, porque somente assim ele poderá reparar o desastre ocorrido e assim preservar o objeto amado de outros ataques dos objetos maus, esse processo de superação e reparação, segundo Melanie Klein, é o chamado de trabalho de luto.
Através da aceitação da perda é que o bebê passa a trabalhar saudavelmente a construção de sua subjetividade.
E de acordo com Melanie Klein, nós sempre estaremos vivendo as posições esquizo-paranóide e depressiva ao decorrer de nossas vidas, sempre de forma alternada, segundo a psicanálise kleiniana, essas são as únicas formas de se viver a angustiante e terrível vida humana.
REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO
COSTA, Teresinha. Psicanálise com crianças. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2007.
NASIO, J. –D. Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1995.
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